Como encontrar o sinônimo certo de uma palavra desconhecida

Você sabe por que os dicionários registram tantos sinônimos diferentes para cada palavra que você consulta? Assinale a opção correta:

Opção A: Porque são todas palavras equivalentes, igualmente intercambiáveis em todas as situações.
Opção B: Porque cada uma dessas palavras tem, em sua origem, um significado próprio, sendo intercambiáveis apenas em situações em que seu sentido seja perfeitamente equivalente.

É evidente que a resposta correta é a opção B! Observe a figura a seguir:

Área de sinonímia: interseção de campos de significação

Figura 1: Cada palavra, na verdade, é um rótulo para um campo de significação. O fenômeno da sinonímia ocorre apenas na área de interseção de dois ou mais campos.

Toda palavra de um idioma funciona como um “gatilho mental” que rotula um “campo de significação”, isto é, um conjunto de significados. Sempre que um escritor ou falante da língua usa uma palavra, ela “dispara” esse conjunto de significados. Cabe ao leitor ou ouvinte o esforço de identificar qual ou quais eram os significados pretendidos pelo emissor da mensagem em meio à vastidão de opções de significados disponíveis.

Praticamente não existem sinônimos perfeitos − isto é, perfeitamente intercambiáveis em todo e qualquer sentido possível no escopo do idioma. As exceções notáveis são as variações regionais ou internacionais para um mesmo objeto − por exemplo, os mil nomes brasileiros para “mandioca”, ou as diferenças entre as palavras preferidas em Portugal, no Brasil e em outros países de Língua Portuguesa − e alguns termos técnicos ou profissionais.

Mesmo nesses casos de sinonímia “perfeita”, é possível encontrar variações de sentido ou preferências de emprego em certos contextos, devido, por exemplo, à sonoridade das palavras. Além disso, temos que considerar um aspecto da relação de sinonímia que é um pouco mais difícil porque transcende a capacidade de registro em dicionário: o uso normalmente adotado em certos tempo e lugar. Ou seja, não basta, muitas vezes, apenas consultar o dicionário; há que saber como seus pares usam as palavras, na época e no local em que você vive.

Vou me furtar ao esforço de formular exemplos; você mesmo os encontrará em sua área de atuação profissional, seja qual for, pois esse fenômeno é conhecido por todos os que já mudaram de emprego alguma vez na vida: nenhuma empresa usa as palavras do mesmo modo que todas as outras para dizer as mesmas coisas, sendo amplamente conhecido e estudado o fenômeno da “gíria profissional”.

Esta explicação toda teve apenas o singelo objetivo de dizer o seguinte: é importantíssimo, fundamental, essencial, crucial (ei, será que as quatro palavras que antecedem estes parêntesis são sinônimas?) adquirir o hábito de consultar o dicionário. Mas não basta consultar o dicionário: é preciso SABER IDENTIFICAR qual dos significados listados no dicionário foi utilizado no texto que você está lendo!!!

Vamos ver um exemplo prático: a palavra “procrastinação”. Trata-se de um termo técnico, com um amplo campo de aplicação na Administração de Empresas, na Psicologia, na Sociologia e outras áreas das Ciências Humanas. Infelizmente, os dicionários da Língua Portuguesa não registram esse sentido. Por exemplo, veja a definição do dicionário Aulete:

procrastinação
(pro.cras.ti.na.ção)
sf.
1. Ação ou resultado de procrastinar; ADIAMENTO

Confira, agora, o sentido dessa palavra em alguns dicionários de língua inglesa:

procrastination

Dictionary.com: noun 1. the act or habit of procrastinating, or putting off or delaying, especially something requiring immediate attention.

Oxford: the act of delaying something that you should do, usually because you do not want to do it

Merriam-Webster: to be slow or late about doing something that should be done : to delay doing something until a later time because you do not want to do it, because you are lazy, etc.

Longman: (formal) to delay doing something that you ought to do, usually because you do not want to do it [= put off]

American Heritage: v.intr.
To put off doing something, especially out of habitual carelessness or laziness.
v.tr.
To postpone or delay needlessly.

Estando de acordo quanto ao sentido da palavra “procrastinação”, resta esclarecer o seguinte: o que fazer, qual o procedimento a seguir, quando nenhum dos significados registrados no dicionário que consultamos parece corresponder ao sentido da palavra na frase − por exemplo, quando a palavra “procrastinação”, no texto, parece ter um sentido diferente do registrado no dicionário Aulete?

Em primeiro lugar, avalie a qualidade do texto como um todo. Caso pareça ter sido redigido por um amador de limitada competência, provavelmente trata-se de um simples caso de uso da palavra errada na hora errada.

O segundo passo, caso o primeiro não se aplique, é consultar outros dicionários: há inúmeras opções de dicionários em Língua Portuguesa disponíveis online, mas é sempre bom ter em casa e no escritório algumas opções de dicionários “em papel”.

O terceiro passo é consultar enciclopédias, pois normalmente incluem, além de uma definição básica, uma discussão conceitual sobre a palavra. A Wikipédia não é uma fonte ruim, especialmente se você confrontar os verbetes em mais de um idioma. Por exemplo, vejamos o que diz a Wikipédia sobre a palavra “procrastinação”:

PT: Procrastinação é o diferimento ou adiamento de uma ação. Para a pessoa que está a procrastinar, isso resulta em stress, sensação de culpa, perda de produtividade e vergonha em relação aos outros, por não cumprir com as suas responsabilidades e compromissos. Embora a procrastinação seja considerada normal, torna-se um problema quando impede o funcionamento normal das ações. A procrastinação crônica pode ser um sinal de problemas psicológicos ou fisiológicos.
A palavra em si vem do latim procrastinatus: pro- (à frente) e crastinus (de amanhã). A primeira aparição conhecida do termo foi no livro Chronicle (The union of the two noble and illustre famelies of Lancestre and Yorke) de Edward Hall, publicado primeiramente antes de 1548.
Logo, um procrastinador é um indivíduo que evita tarefas ou uma tarefa em particular.

ES: La procrastinación (del latín procrastinare: pro, adelante, y crastinus, referente al futuro)2 , postergación o posposición es la acción o hábito de retrasar actividades o situaciones que deben atenderse, sustituyéndolas por otras situaciones más irrelevantes o agradables.

EN: Procrastination is the avoidance of doing a task which needs to be accomplished.[1] It is the practice of doing more pleasurable things in place of less pleasurable ones, or carrying out less urgent tasks instead of more urgent ones, thus putting off impending tasks to a later time. Sometimes, procrastination takes place until the “last minute” before a deadline. Procrastination can take hold on any aspect of life — putting off cleaning the stove, repairing a leaky roof, seeing a doctor or dentist, submitting a job report or academic assignment or broaching a stressful issue with a partner. Procrastination can lead to feelings of guilt, inadequacy, depression and self-doubt.

FR: La procrastination (du latin pro, qui signifie « en avant »1 et crastinus qui signifie « du lendemain »1) est une tendance à remettre systématiquement au lendemain des actions (qu’elles soient limitées à un domaine précis de la vie quotidienne ou non). Le « retardataire chronique », appelé procrastinateur, n’arrive pas à se « mettre au travail », surtout lorsque cela ne lui procure pas de satisfaction immédiate.

Finalmente, o próprio texto costuma fornecer pistas sobre o sentido da palavra. Por exemplo, veja este trecho de um editorial do jornal “O Estado de S. Paulo”:

“No entanto, não se pode confundir prudência com procrastinação. Ao adiar decisões por tempo demasiado…”

O próprio texto explica em que sentido o autor usou a palavra “procrastinação”: “adiar decisões por tempo demasiado, além do recomendável pela prudência”.

Resumindo, quando os significados registrados no dicionário consultado por você parecem não se “encaixar” no sentido do texto que está lendo, siga estes passos:

  1. Verifique se o texto foi escrito por um profissional ou por um amador;
  2. Consulte mais de um dicionário da Língua Portuguesa;
  3. Consulte dicionários de idiomas estrangeiros;
  4. Consulte enciclopédias; se possível, em mais de um idioma;
  5. Quando tudo mais falhar, extraia o sentido do próprio texto.

Siga os passos rigorosamente na ordem em que os apresentamos. Veja: um grande problema criado pelos tais “exercícios de interpretação de textos” que empesteiam as escolas brasileiras é que eles se baseiam na expectativa de que os alunos entendam o significado de um texto saltando diretamente para o passo 5! O resultado? Todo mundo tentando “pegar o sentido no contexto” (sic) e ninguém entendendo nada!

É por isso, e apenas por isso, que, no Brasil, apenas 8% da população conseguem entender plenamente o significado de um texto. Somente o seu esforço contínuo para seguir os cinco passos indicados anteriormente poderá salvá-lo do grupo dos 92% que, na melhor das hipóteses, conseguem entender apenas parcialmente os textos que leem. Quem fizer esse esforço colherá os benefícios mais rapidamente do que imagina. Caso você sinta que precisa de acompanhamento sistemático para ajudá-lo na aplicação prática desta e de outras técnicas para domínio da linguagem escrita, considere a possibilidade de matricular-se em nosso curso online de redação.

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