Como redigir um texto explicativo

Você provavelmente já se viu na situação de assistir à aula de um professor esforçado, inteligente e erudito que explica, explica e explica a matéria durante horas a fio e, quanto mais explica, menos a turma entende. A paixão do professor pelo tema da aula, em muitos desses casos, é perceptível, quase palpável: os olhos brilham, a voz se exalta, os gestos entusiasmam… Mas a turma continua entendendo rigorosamente nada sobre o tema da aula.

Explicação num contexto gerencial: um funcionário graduado japonês explica o funcionamento de um equipamento complexo em uma fábrica. Autor da foto: Mikiyo Yamanaka.

As explicações não são indispensáveis apenas nas salas de aulas de escolas e universidades, mas adquirem importância central em uma ampla variedade de contextos. Na foto, um exemplo de explicação no contexto gerencial. Fotógrafo: Mikiyo Yamanaka.

Como faço para “saber explicar”?

Durante meus longos anos em bancos de escolas e universidades, ouvi centenas de vezes, sobre dezenas de professores, a sentença capital do corpo discente: “Ele pode até saber muito sobre o assunto da disciplina, mas não sabe explicar”. Sendo eu próprio um professor, preciso refletir constantemente sobre esse problema, pois é óbvio que não posso me dar ao luxo de receber de meus alunos uma avaliação tão desvantajosa acerca de meu trabalho. O desafio é, portanto, descobrir como explicar um assunto de modo a assegurar que a maioria dos alunos entenda nossa linha de raciocínio.

O primeiro passo para vencer esse desafio é entendê-lo do ponto de vista do estudante, não de uma teoria pedagógica ou filosófica qualquer. O que desejamos não é obter o reconhecimento da comunidade acadêmica, mas desvendar os princípios fundamentais que têm o potencial de tornar uma explicação compreensível por mais da metade de nossos alunos.

Explicações: necessárias para todas as profissões

Devemos salientar que as explicações não são necessárias apenas para professores durante o ato de ministrar disciplinas em escolas e universidades, mas adquirem importância central nos mais diversos contextos profissionais. Veja alguns exemplos:

  • Um profissional experiente necessita explicar aos aprendizes ou estagiários o modo correto de executar uma tarefa.
  • Um subordinado precisa explicar aos seus superiores hierárquicos como executou a tarefa de que foi encarregado.
  • Um advogado deve explicar as razões de seu cliente ao juiz e este, por sua vez, os fundamentos de sua decisão a todos os interessados.
  • Um aspecto essencial do trabalho do médico é explicar aos pacientes os detalhes do tratamento.
  • Qualquer prestador de serviços cujo trabalho envolva a elaboração de orçamentos – por exemplo, encanadores, mecânicos de automóveis, empreiteiros, contadores, consultores, dentistas, fisioterapeutas, designers, redatores, etc – terá de, rotineiramente, explicar aos seus clientes os detalhes que justificam o preço do serviço.
  • A maior parte do trabalho do vendedor consiste, essencialmente, em explicar ao cliente as vantagens do produto, as formas de pagamento, as garantias, etc.
  • Empresários e executivos estão sempre envolvidos na atividade de prover explicações a clientes, fornecedores, acionistas, bancos, prestadores de serviços e, também, a outros executivos da mesma empresa.

É fácil perceber que as explicações fazem parte da vida profissional da maioria das pessoas. A eventual falta de competência em explicar o próprio trabalho é capaz de arruinar carreiras de pessoas competentes e talentosas na execução do trabalho propriamente dito.

Explicar é selecionar

Voltemos, então, àquele professor mencionado no início deste artigo: esforçado, apaixonado, erudito, inteligente… Por que não consegue se fazer entender pelos alunos? Há diversas explicações possíveis mas, em todos os casos que testemunhei pessoalmente, um fator se apresentou de forma saliente e cristalina: a incompreensão do fato de que explicar é selecionar!

Basicamente, o problema é que o professor, por uma variedade de motivos que não cabe desenvolver aqui, desanda a “dizer tudo o que sabe” sobre o assunto. Ele inunda o cérebro dos alunos com uma quantidade avassaladora de dados, fatos, regras, exceções, exemplos, depoimentos, testemunhos, pesquisas, anedotas, mitos, definições, conceitos, enfim, uma torrente de informações sob a qual a linha de raciocínio submerge e desaparece. O resultado é que o aluno não consegue reproduzir as linhas gerais daquilo que ouviu!

Ora, caso o seu aluno não consiga reproduzir com as próprias palavras ao menos os componentes fundamentais de sua explicação, esteja certo de que ele não entendeu nada do que você disse e seu tempo foi jogado fora!

Critérios para a redação de bons textos explicativos

Quando você tiver a necessidade de redigir um texto explicativo, além dos princípios gerais da boa Redação em Língua Portuguesa, procure orientar-se pelos seguintes critérios:

  1. Selecione o que o leitor precisa saber. Controle o impulso de “dizer tudo o que sabe” sobre o assunto. O seu leitor não será capaz de memorizar e, portanto, de integrar ao seu raciocínio, um grande número de informações novas. Em vez disso, dedique um esforço adicional para descobrir qual é o conjunto mínimo de informações necessárias ao entendimento do assunto. Toda informação que não faça parte desse conjunto deverá ser cortada da explicação atual e, se necessário, apresentada em outro capítulo, subcapítulo ou, até mesmo, num apêndice.
  2. Apresente as informações gradativamente, uma cada de vez. Explique, desenvolva e exemplifique uma informação de cada vez, concedendo tempo ao cérebro de seus leitores para “assimilar”, “associar”, “classificar” e “arquivar” uma informação nova antes de apresentar a seguinte.
  3. Apresente as informações numa sequência lógica, que forme uma “história” com início, meio e fim, na mente do leitor. Em caso de dúvida, pense que sua explicação é como uma história em quadrinhos. Cada quadrinho mostra um fragmento de informação que, unindo-se aos fragmentos de informação apresentados nos outros quadrinhos, contribui para formar uma história completa e coerente. Porém, se você misturar a ordem dos quadrinhos, o resultado será ininteligível!
  4. Acrescente resumos e repetições das ideias-chaves em pontos estratégicos do texto. Esteja certo de que o leitor, ao chegar à metade do texto, já terá esquecido alguma informação fundamental apresentada no início. Por isso, é importante incluir “lembretes” em pontos estratégicos, sob as mais variadas formas: citações, resumos, quadros sinópticos, esquemas, ilustrações, gráficos, tabelas, fotografias, infográficos, entre muitos outros. O importante é assegurar-se de que todas as informações essenciais estejam disponíveis na memória do leitor durante toda a explicação.

É importante ressaltar que estes critérios para a redação de textos explicativos também são válidos para aulas expositivas e apresentações profissionais.

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