Vocabulário: você entende o que você mesmo escreve?

A pergunta do título – “Você entende o que você mesmo escreve?” – parece tola, talvez até ofensiva. Afinal, todos sabemos o que queremos dizer quando escrevemos um texto qualquer – pelo menos, durante a maior parte do tempo. O problema para o qual desejo chamar sua atenção não se refere ao que você “quis” dizer, mas ao que você efetivamente “disse” ao escolher certas palavras para expressar o seu pensamento na forma escrita.

Imagem: Pencil with checklist" por cuteimage, cortesia de Freedigitalphotos.net.

Você realmente conhece o significado de cada palavra que escreve em seus textos? – Imagem: “Pencil with checklist” por cuteimage, cortesia de Freedigitalphotos.net.

Por exemplo, vejamos o que diz um texto da agência internacional Reuters sobre uma recente operação da Polícia Federal:

Os mandados foram autorizados pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF)…

A escolha das palavras sugere que o autor do texto, provavelmente, não sabe o que está dizendo. Veja: um “mandado” é uma “ordem”. Se um ministro do STF “manda”, todo mundo obedece, concorda? Portanto, um “mandado” não precisa de “autorização” de ninguém! Afinal, todos sabem que, na prática, “manda quem pode, obedece quem tem juízo”!

Mas digamos que o repórter estivesse se referindo ao documento, ao papel timbrado com assinatura e autenticação do ministro. Ainda assim, o documento não foi “autorizado”, mas “emitido”, pelo ministro!

Em geral, evito criticar os erros de redação em notícias, já que a rapidez, inevitavelmente, incrementa o número de erros. Acredito que tenha sido esse o caso da notícia publicada no site da agência Reuters. De todo modo, vemos com muita frequência esse tipo de construção, em que a ignorância quanto ao sentido original de uma palavra vem à tona da forma mais explícita quando o escritor decide associá-la a outra palavra de sentido ou significado incompatíveis.

Um “mandado autorizado” é um caso extremo, mas há outras situações mais sutis. Por exemplo, em um texto sobre culinária, leio que um prato foi “confeccionado”. Ora, não podemos dizer que o uso do verbo “confeccionar”, neste caso, esteja “errado”. Mas precisamos admitir que a palavra “confecção” está de tal modo associada à produção de artigos de vestuário que seu emprego no contexto de uma receita culinária se torna, no mínimo, estranho, demonstrando falta de intimidade do autor com o mundo da culinária, em que os pratos são “preparados”, jamais “confeccionados”.

A habilidade de escolher as palavras certas para cada frase que vamos escrever envolve um domínio amplo do significado e do sentido de cada palavra, de modo que o escritor deve incorporar como um hábito a consulta regular a dicionários. Mas o simples recurso ao dicionário nem sempre basta: também é indispensável a manutenção de uma rotina diária de leituras para absorver o uso corrente de cada palavra em cada contexto, assimilando as mudanças inerentes a toda língua viva.

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