Que estilo de redação você deve adotar?

Os textos de algumas disciplinas acadêmicas têm um estilo pródigo em frases longas e inversões complexas, que acrescentam uma dificuldade extra de leitura à própria dificuldade natural de compreender os conceitos que os textos pretendem apresentar.

Em algumas situações, essa dificuldade é justificável pela própria complexidade do raciocínio envolvido nas questões abordadas pela disciplina. É o caso, por exemplo, de boa parte dos textos de Filosofia e das disciplinas que a ela são afeitas, por exemplo, Linguística, Semiologia, Comunicação Social, Sociologia, Antropologia, Ciências Políticas, Artes, Direito, Educação e Psicanálise.

O estilo verboso e complicado empregado em muitos textos dessas disciplinas gera com frequência a crítica – nem sempre injusta, diga-se a favor da verdade! – de que o autor está tentando ocultar a fragilidade de seu raciocínio por baixo de um texto “enrolado“.

Por outro lado, os textos de outras disciplinas acadêmicas costumam assumir um estilo mais “direto ao ponto”, com o uso de construções mais simples, frases mais curtas e restrição das complicações de vocabulário ao uso de termos técnicos. Esse caso é mais comum nas Engenharias, nas Ciências Exatas, Biomédicas e Tecnológicas, além de predominar em disciplinas que envolvam pesquisa experimental, como a Psicologia Comportamental e a Microeconomia. Também é o estilo predominante nos textos de Administração de Empresas, Publicidade e Marketing.

O estilo cru frequentemente usado nos textos dessas disciplinas gera frequentemente acusações – mais uma vez, nem sempre injustificadas – de “simplismo” ou “primarismo intelectual“.

Em um curso de redação, é preciso tomar uma posição sobre esse tema. Afinal, que estilo você deve preferir?

Minha resposta é simples e direta: prefira um estilo inteligente!

Pense no seu leitor. Quem ele é? Que tipo de textos ele lê? Que tipo de texto ele costuma redigir?

Por exemplo, se você precisa redigir respostas em provas discursivas ou longos trabalhos dissertativos para um curso que você frequente, é possível avaliar a preferência do professor simplesmente avaliando os textos que ele adota e recomenda. Você também pode indagar quais são os autores que ele admira e costuma ler. Caso o professor tenha livros e artigos publicados, ou redija próprio punho manuais e apostilas, você também pode examinar esse material para obter uma ideia geral quanto ao estilo mais adequado para comunicação com esse professor.

Em resumo: o estilo inteligente é o que segue a preferência do seu leitor. Por exemplo:

  • Um leitor desatento ou não habituado à leitura exige frases mais simples e diretas.
  • Um leitor mais instruído e experiente pede uma regular quebra de monotonia no texto, exigindo do autor uma alternância entre construções mais simples com outras mais complexas.
  • Um leitor muito cônscio e orgulhoso da própria erudição, ele próprio engajado na produção de textos mais complexos para o seleto público do qual ele faz parte, deixa o autor à vontade para complicar indefinidamente o seu texto, desde que mantenha coerência e inteligibilidade.

De todo modo, é incrivelmente mais difícil escrever um texto simples para expressar ideias complexas do que criar um texto enrolado para expressar ideias simples. Por isso, apresentamos neste artigo um exercício de simplificação de textos, para que você pratique um pouco a arte de dizer muito com poucas palavras.

Exercício

Redija uma versão mais simples e direta para cada uma das frases abaixo. Se necessário, divida as frases mais longas em várias frases mais curtas.

Exemplo resolvido:

Original: “Se o homem soubesse que o mundo acabaria quando ele morresse, ou logo depois, esse mundo perderia toda a sua realidade, como a perdeu para os antigos cristãos, na medida em que estes estavam convencidos de que as suas expectativas escatológicas seriam imediatamente realizadas” (Hannah Arendt).

Versão simplificada: A consciência do fim do mundo após a morte levaria a uma perda geral de sentido, de modo semelhante à perda da expectativa escatológica pelos antigos cristãos.

Agora é sua vez! Será que você consegue simplificar as frases abaixo?

1 – Original: “Por muito tempo um ato de fé, a crença em um progresso material e moral votado a jamais se interromper sofre, assim, sua crise mais grave” (Claude Levi-Strauss).

2 – Original: “O Brasil é a realização derradeira e penosa dessas gentes tupis, chegadas à costa atlântica um ou dois séculos antes dos portugueses, e que, desfeitas e transfiguradas, vieram dar no que somos: uns latinos tardios de além-mar, amorenados na fusão com brancos e com pretos, deculturados das tradições de suas matrizes ancestrais, mas carregando sobrevivências delas que ajudam a nos contrastar tanto com os lusitanos” (Darcy Ribeiro).

3 – Original: “O que de semelhante vejo na mediocridade reinante no governo federal do Brasil, loteado em 39 ministérios e 22 mil amigos do rei não concursados, vivendo regiamente à custa da Nação, sob o comando da presidente da República, é a destruição sistemática que, nos últimos anos, ocorreu com a indústria brasileira, abalada em seu poder de competitividade por um Estado mastodôntico, que sufoca a Nação com alta inflação, elevada carga tributária, saldo desprezível na balança comercial, superávit primário ridículo e maquiado, rebaixamento do nível de investimento exterior, desvio em aplicações de capitais que deixam de ser colocados no País para serem destinados a outras nações emergentes, perda de qualidade no ensino universitário e na assistência social” (Ives Gandra Martins).

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