Uso do vocabulário: devo afirmar o negativo ou negar o positivo?

Nesta semana, fiquei agradavelmente surpreso ao corrigir o texto de uma aluna e perceber sua inclinação pela escolha sistemática das palavras mais delicadas, mesmo nas situações em que ela precisava descrever uma situação desagradável, irritante ou condenável.

Trata-se de uma inclinação pessoal. Ao revelar sua preferência pelo uso das palavras mais delicadas, ela revelou a sua própria delicadeza interior.

Por exemplo, em determinado exercício, ela preferiu substituir a palavra “barafunda” pela palavra “desorganização“. Observe que a escolha da palavra “barafunda” implica um alto grau de irritação por parte de quem está falando ou escrevendo. Até mesmo uma gaveta “bagunçada” necessita “progredir” por vários estágios de desorganização até atingir um nível que permita qualificá-la como uma “barafunda”!

Quando estamos irritados ‒ e não podemos ou queremos recorrer aos palavrões ‒ aumentamos a frequência de uso de palavras com efeito cômico, sonoridade ridícula ou que sugiram imagens desprazerosas. Já quando mantemos o controle das emoções, tendemos a preferir um vocabulário menos agressivo.

Por exemplo, quando dizemos que o quarto de um adolescente está uma “barafunda”, estamos afirmando que a bagunça já atingiu um nível insuportável. Por outro lado, se escolhemos dizer que esse mesmo quarto está “desorganizado”, nossa opção é por negar, com o uso do prefixo “des-“, a situação agradável que desejamos, isto é, a “organização“.

Em resumo: quando estamos calmos, procuramos descrever situações desprazerosas escolhendo palavras mais orientadas para a negação do agradável do que para a afirmação do desagradável, porque a negação do agradável agride menos o leitor ou ouvinte do que a afirmação do desagradável.

O que a escolha das palavras diz sobre você

As pessoas que usam sistematicamente uma linguagem agressiva exibem aos leitores e ouvintes uma imagem de desequilíbrio emocional. Por isso, você deve escolher as palavras conforme o modo como deseja ser visto pelos seus leitores.

Por exemplo, se você pretende competir em um concurso público que envolve provas discursivas e redações, um traço importante a cultivar conscientemente em seu estilo de redação é transmitir ao examinador uma imagem de racionalidade, imparcialidade e equilíbrio, escolhendo as palavras mais delicadas, evitando tanto os arroubos de indignação, quanto os elogios derramados… A menos que você saiba o que está fazendo e tenha ótimos motivos para agir de modo diferente!

Já se o seu objetivo é transmitir a imagem de blogueiro-analista-político “indignado” com os “absurdos” cometidos pelos políticos a quem faz oposição, a escolha natural é por um vocabulário mais agressivo e impetuoso, que expresse a magnitude de seu desprezo pelos atos dessas “pessoas desprezíveis”.

De todo modo, essa deve ser uma escolha consciente de sua parte. Decida como deseja ser visto pelo seu leitor e escolha palavras compatíveis com a imagem desejada!

Neste curso online de redação, você terá 20 lições dedicadas exclusivamente ao desenvolvimento de seu vocabulário, além de aprender técnicas e adquirir hábitos que irão ajudá-lo a continuar se desenvolvendo por muito tempo após o encerramento do curso. Matricule-se já!

Aulas de Redação Online