Carta aos Gramáticos e Filólogos do Brasil — Por uma Gramática dedutível

Uma “regra” é um enunciado de validade geral que permite (1) entender os casos particulares conhecidos e (2) deduzir os casos particulares desconhecidos.

Essa noção elementar escapa por completo aos nossos gramáticos, que parecem sentir um prazer especial em multiplicar casos particulares que contrariam as regras que eles mesmos enunciam, sob pretextos como “forma consagrada pelo uso”.

Ora, as regras servem justamente para evitar que o indivíduo precise conhecer todos os casos particulares. Quando se diz que uma forma é consagrada pelo uso, cria-se a obrigação de conhecê-la previamente, impedindo-se o uso do raciocínio dedutivo diante de uma forma desconhecida.

Especialmente no caso do uso do hífen, criou-se uma situação impossível: ou você memoriza todas as palavras do dicionário que devem ser hifenizadas, ou jamais conseguirá deduzir se uma palavra desconhecida deve ou não ser escrita com hífen!

A Gramática do idioma é um campo do conhecimento que praticamente a totalidade da população, à exceção dos que dedicarão sua vida às Letras, estudará apenas uma vez na vida, durante o período escolar, após o qual deverão dedicar-se exclusivamente ao aprofundamento no estudo de sua profissão. Não é realista esperar que toda a população seja composta de filólogos — afinal, os filólogos também precisam dos serviços dos médicos, dentistas, fisioterapeutas, contadores, técnicos de laboratório, eletrotécnicos, operários das mais diferentes indústrias, administradores públicos e privados… Assim, é necessária e urgente uma Gramática composta de regras que todos os cidadãos de todas as profissões consigam aprender, tão desprovida quanto possível de exceções e casos particulares indedutíveis, ou dedutíveis apenas por filólogos ou outros especialistas no estudo do idioma!

A tarefa que se impõe é a de ensinar 210 milhões de pessoas a escrever correta e uniformemente, seja qual for a profissão que venham a seguir, seja qual for o tempo que dedicarão de suas vidas ao estudo do idioma, ainda que não mais do que os quatro anos iniciais do ensino fundamental.

Os gramáticos e filólogos devem chamar para si a responsabilidade de garantir que os brilhantes cientistas do Butantan e da FIOCRUZ responsáveis pelas vacinas que eles próprios receberam não precisem perder precioso tempo na redação de seus artigos e relatórios científicos indagando-se se a palavrinha X que desejam escrever deve ou não ser hifenizada! A criação de regras claras, destituídas de um número de exceções que inviabilize a memorização por não especialistas deve ser um objetivo incansavelmente perseguido, para o bem de todos — inclusive dos especialistas!

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