Como desenvolver bem o tema de sua redação

Os cursos de redação tradicionais tendem a dirigir excessiva atenção à escolha do tema. Uma expressiva parcela dos esforços dos estudantes nos cursinhos preparatórios para vestibulares e concursos públicos é orientada pela intenção de abranger o maior número possível de temas considerados “prováveis”. Esse exercício de adivinhação é tão enganoso quanto contraproducente, pois gera no candidato uma falsa sensação de segurança que pode prejudicá-lo caso surpreendido por um tema inesperado no momento da prova. Por outro lado, a própria exigência de redação sobre um “tema” que não seja coberto pelo conteúdo programático previsto no edital do concurso é tão estapafúrdio quanto injusto, pois um bom candidato arrisca-se a ser eliminado apenas por desconhecer um tema arbitrariamente selecionado pela banca examinadora. No entanto, como a abordagem que orienta este curso é a da solução dos problemas, apresentaremos a seguir algumas técnicas para abordar com sucesso praticamente qualquer “tema” que lhe seja proposto.

Mapa mental articula 6 possíveis abordagens de um tema qualificadas com ícones.

Figura 1: O tema é muito menos importante do que a abordagem escolhida para desenvolvê-lo em sua redação. Imagem criada pelo autor.

O que é um “tema”?

Como mencionamos no artigo “Sobre a polêmica do aborto e o significado da voz passiva”, antes de participar em qualquer discussão é indispensável assegurar que todos estejam de acordo quanto ao significado das palavras empregadas pelos participantes. Assim, para começar, definiremos o que é um “tema”.

O verbete “tema”, nos dicionários consultados, registra diversos significados diferentes. No sentido comumente usado pelos cursos e professores de redação, os dicionários limitam-se a registrar sinônimos genéricos não muito esclarecedores: “objeto”, “assunto”, “tópico” ou “matéria”. Ao lado desse significado genérico, encontramos diversas outras definições técnicas. O significado da palavra “tema” no campo da Linguística é o que se revela mais útil para os estudantes de Redação:

7. [Linguística] Parte de um enunciado sobre a qual o resto do enunciado fornece informação ou que o resto do enunciado comenta ou questiona (ex.: os temas das frases estão sublinhados: “O Manuel comeu o bolo”; “O bolo, o Manuel comeu-o”). = TÓPICO

“tema”, in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, https://www.priberam.pt/dlpo/tema [consultado em 28-11-2017].

Podemos entender, a partir dessa definição, que o “tema” de uma redação é uma informação conhecida tanto pelo escritor quanto pelo leitor. Por exemplo, para que seja possível e útil redigir um texto sobre o tema “Problemas econômicos brasileiros do último quinquênio”, é indispensável que você e o seu leitor saibam onde fica o Brasil, o que é Economia, o que significa a palavra “quinquênio”, e assim por diante.

O tema é, portanto, o conhecimento compartilhado por você e seu leitor, uma informação que ambos conhecem, sobre a qual você acrescentará informações originais e potencialmente interessantes para seu leitor. Observe que não há necessidade de que essas “informações novas” sejam descobertas científicas revolucionárias ou um grandioso desenvolvimento filosófico. Um raciocínio simples e claro, temperado com alguma especulação bem fundamentada pode ser suficiente para obter sucesso na maioria das redações de vestibulares e concursos públicos.

O tema não é tão importante quanto sua abordagem

Tendo entendido que o “tema” é uma informação redundante, isto é, sobre a qual não há novidade, é fácil perceber que o interesse primordial de um leitor por qualquer texto que lhe caia nas mãos não está no tema em si, mas na contribuição original do autor, nas informações adicionais que o texto provê. Assim, seja qual for o tema que você tenha diante de si, sua primeira pergunta será “Qual a melhor abordagem”?

Um mesmo tema pode ser abordado de tantas maneiras diferentes quantos sejam os escritores engajados na tarefa de escrever sobre ele. O problema de selecionar uma abordagem depende das condições que você enfrentará durante a redação:

  • Num contexto de prazos dilatados, com ampla possibilidade de estudo, pesquisa e aprofundamento – por exemplo, redação de teses e dissertações, monografias, livros, artigos científicos – a abordagem surge naturalmente como decorrência do aprofundamento no tema. A acumulação de leituras sucessivas sobre um mesmo tema leva o escritor a conhecê-lo em cada vez maior profundidade, tornando fácil a tarefa de escolher uma abordagem.
  • Num contexto de prazos exíguos, com limitada possibilidade estudo, pesquisa e aprofundamento – por exemplo, redação de artigos sob encomenda para revistas e sites, redação de provas para concursos públicos e vestibulares – a abordagem surgirá, inevitavelmente, a partir de informações acumuladas em seus estudos e pesquisas prévios, ou em sua própria experiência.

Deveria ser desnecessário dizer que, caso você não tenha absolutamente nenhuma informação sobre um tema, não há a menor possibilidade de que você consiga escrever uma única linha sobre ele. Portanto, a exposição que se segue parte do pressuposto de que você sabe alguma coisa sobre o tema mas não dispõe da possibilidade de pesquisa e aprofundamento. Em situações como essa, a solução mais prática é efetuar o que chamo de “pesquisa da memória”.

Selecionando a abordagem do tema com a “pesquisa da memória”

O método de “pesquisa da memória” é bastante simples. Durante uma fração do tempo total disponível para redigir o texto (numa prova de concurso típica, 10 minutos costumam ser suficientes), você tomará nota de todas as informações relacionadas ao tema de que consiga lembrar-se, sem se preocupar em colocá-las em ordem. Findo esse prazo, você dedicará mais algum tempo a experimentar diferentes combinações das informações coletadas na memória. Quando você perceber que uma dessas combinações forma uma sequência coerente, dê-lhe um “título” e continue experimentando novas combinações até o esgotar o prazo definido para essa tarefa (mais uma vez, numa prova típica de concurso, você deverá concluir esta etapa em 10 minutos ou menos).

Ao completar o prazo, você terá diferentes conjuntos de informações ordenadas em sequências coerentes e agrupadas sob “títulos” descritivos. Cada um desses conjuntos representa o que chamamos de “abordagem do tema”, entendida como a manifestação original de sua criatividade, imaginação, estudo e experiências de vida em torno de uma informação que você tem em comum com o seu leitor.

O próximo passo é selecionar uma dessas abordagens para dar início ao processo de redação do texto propriamente dito. Os critérios de seleção podem variar muito de acordo com o contexto; por exemplo, o enunciado do tema pode incluir certas exigências ou restrições que você não pode deixar de obedecer e que, portanto, inviabilizarão a escolha de certas abordagens. De todo modo, o principal critério é sempre a disponibilidade de informações na memória sobre os tópicos incluídos em cada abordagem. Se você precisa redigir um texto recorrendo apenas a informações coletadas em sua memória, é vital qualificar as diferentes abordagens, tal como fizemos na figura que ilustra este artigo, em função de nossas preferências e capacidades. Na figura, usamos pequenos ícones para ilustrar nossa atitude em relação às diferentes abordagens:

  • Abordagem 1: Não consigo me recordar de informações cruciais ao sucesso desta abordagem.
  • Abordagem 2: Incompatível com as exigências do leitor.
  • Abordagem 3: Adoraria seguir esta abordagem, mas não estou certo de que me lembrarei de tudo o que é necessário para fazê-lo com sucesso.
  • Abordagem 4: Tenho algumas boas ideias para escrever um ótimo texto nesta abordagem.
  • Abordagem 5: Abordagem perigosa por dar margem a mal-entendidos.
  • Abordagem 6: Não estou seguro se é uma boa ideia seguir este caminho.

É evidente que não é obrigatório o uso desses ícones específicos para qualificar as diferentes abordagens. Sinta-se à vontade para adotar critérios como “1 a 5 estrelas”, “notas de 1 a 10”, “conceitos da A a F”, ou qualquer outro que você achar melhor. O importante é que você faça uma escolha consciente dos potenciais riscos e benefícios de cada escolha, descartando imediatamente todas as opções que tragam prejuízo evidente ou risco desnecessário.

Conclusão

O “tema” de uma redação é um fragmento de informação compartilhada entre o escritor e o leitor. Deste modo, a verdadeira contribuição original do escritor não será o tema, mas a “abordagem” que fará dele. A abordagem de um tema sempre dependerá do tempo disponível para estudo e pesquisa: quando esse tempo for reduzido ou inexistente, o escritor precisará recorrer à pesquisa da memória, um método simples para gerar múltiplas abordagens viáveis. Finalmente, você precisará adotar critérios objetivos para selecionar a melhor abordagem antes de dar início à redação do texto propriamente dito.

Para saber mais sobre a pesquisa de temas, a seleção de abordagens, o método de pesquisa da memória e muitas outras técnicas interessantes para escrever excelentes redações sobre os mais variados temas, matricule-se já em nosso Curso Online de Redação!

Aulas de Redação Online