Meu site de poemas… E um esboço de manifesto.

Impelido por um pervasivo e sempiterno desejo de escrever poemas, além do impulso de unir palavras à ação, decidi, em julho do ano passado, retomar o hábito e publicar os resultados um site pessoal, nada criativamente chamado, confesso, de “Poemas por Alexei Gonçalves de Oliveira“. Desde então, compus 28 poemas originais, recuperei um poema antigo (1988?), 3 traduções de poemas no idioma inglês e 2 traduções de poemas em romeno. O que exponho a seguir são as concepções, por assim dizer, “teóricas”, que orientaram essa modesta produção e que refletem minha atual concepção da Arte Poética e um esboço de proposta para um hipotético e urgentemente necessário movimento literário.

Em termos mais simples: nos tópicos abaixo, explico o que estou tentando fazer quando escrevo um poema e publico nesse site. Se tenho sucesso ou não, é um julgamento que não cabe a mim, mas ao leitor.

  1. Forma a serviço do pensamento. Uma poema é um delicado jogo de encaixe de um pensamento com uma expressão sonora e uma forma visual. Alguns poetas esforçam-se para encaixar seu pensamento a marretadas numa forma predefinida. Outros, apenas dizem o que pensam numa forma vagamente poética. Minha proposta é subordinar a forma visual e musical ao pensamento, para que funcione como um veículo, um meio de transporte, para uma ideia, uma imagem, um sentimento, um conceito, uma visão de mundo. Primeiro, o pensamento; depois, a forma. Se o pensamento pedir uma forma rígida, que seja. Se for indispensável quebrar o pé de um verso, ou dois, ou dez, para que o pensamento melhor se expresse, faço-o sem culpa. Se a ideia exige uma forma mais fluida, sigo em frente.
  2. Musicalidade e ritmo. Tento dotar a pronúncia de meus versos de fluidez sonora, seja qual for o tema ou a forma escolhida. Porém, a influência do jazz me faz apreciar ritmos irregulares, imprevisíveis, inesperados; mudanças súbitas no andamento e trocas constantes no compasso, modulações e mudanças de tom, escalas e acordes exóticos, dissonâncias, entre outros. Não espere a musicalidade previsível de sambas e modinhas! Inspirações constantes: “Take Five”, de Dave Brubeck; “Giant Steps”, de John Coltrane; “So What”, de Miles Davis; “Ornithology”, de Charlie Parker. Impossível, claro, afastar por completo a influência do hard rock e do heavy metal de minha adolescência, para o qual compus um poema, “A Romântica Lira de Chumbo“.
  3. Romantismo. Na supracitada “Lira de Chumbo”, compus estes versos: “Sou um Romântico, mas não um romântico / Que canta amores de bar e motel”. Do Romantismo, extraio a liberdade formal, uma certa dose de sentimentalismo, muitos arroubos e algumas pitadas subjetividade. Não concebo um pensamento desacoplado de um correspondente sentimento, mas não me afilio ao pieguismo, nem ao dramalhão, nem aos ideais revolucionários, nem ao individualismo exacerbado que marcam muitas fases e autores do movimento Romântico.
  4. Atualidade dos clássicos. Na suíte de poemas “Fobos” e “Deimos“, trago a Mitologia grega à atualidade, sugerindo que os problemas brilhantemente diagnosticados no berço de nossa civilização continuam vivos, atuais, cortando carne e vertendo sangue. Já em “A mais jovem das deusas pagãs” atrevi-me a narrar mitologicamente o nascimento e a vida de uma entidade cuja sombra se espraia por toda a civilização contemporânea.
  5. Temas e problemas contemporâneos. Meus poemas não cantam o passado, ou questões eternas, ou terras idílicas, ou fantasias atemporais, mas o que o derredor me envia aos olhos. Há amplo espaço para o noticiário político, para a Teoria Econômica, para as pessoas e instituições que nos elevam e insultam, tanto quanto para a tecnologia onipresente em que você me lê.
  6. Vocabulário vitaminado. A Língua Portuguesa, riquíssima como é, tem uma penca de palavras para cada  finalidade imaginável. Por isso, recuso-me a chamar de “poesia” a qualquer texto que não exija do leitor médio pelo menos uma visita ao dicionário a cada estrofe e nem um verso escrevo em linguagem de telenovela ou de botequim.
  7. Rimas imprevisíveis. Fugindo ao debate “rima rica, rica pobre”, quando opto por escrever um poema rimado tenho satisfação em pesquisar longamente as opções de rimas até encontrar um par inesperado pelo leitor. Não escrevo rimas para os olhos, mas para os ouvidos, refletindo a pronúncia vigente no Brasil de hoje.
  8. Traduções tão fiéis à forma quanto à mensagem. Quando traduzo um poema, meu esforço é sempre no sentido de preservar tanto a forma quanto a mensagem. Meu ponto de partida é imaginar como o poeta escreveria aqueles versos caso fosse um brasileiro do primeiro quartel do século XXI. Daí para frente, é um jogo de encaixe, em que desbasto as sobras para manter o essencial. Às vezes, até dá certo.
  9. Retorno à linguagem do século XIX. A poesia brasileira do século XX foi presunçosa, feia e chata. Empobreceu o idioma e as formas expressivas ao limite do ridículo até conduzir nosso povo a esta situação de surdez poética generalizada, em que praticamente a totalidade da população portadora de diploma universitário jamais leu um poema inteiro em sua vida e, os poucos que leram, consumiram apenas porcarias. Em meus poemas, escritos nos poucos minutos disponíveis entre um compromisso profissional e outro, tento, solitário Brancaleone, liderar um exército inexistente rumo a um objetivo impossível: reivindicar a herança dezenovista desprezada pelos pretensiosíssimos modernistas e retomar sua obra do ponto em que pararam. Se me faltam o talento, o conhecimento e a cultura para vencer, que permaneçam pelo menos a ideia e o exemplo pendentes pomos das Hespérides à espera de uma mão heroica que se digne a colhê-los.
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