Como adquirir a habilidade de escrever bem

Ao longo do desenvolvimento deste método de ensino de Redação, uma das ideias fundamentais, mantidas sob foco constante, foi a intenção de atender a um estudante que deseja adquirir a habilidade de escrever bem – isto é, a capacidade de de “redigir com competência”, uma tarefa prática destinada a produzir resultados objetivos, visíveis, palpáveis, mensuráveis. Destarte, entendemos, desde o início, que o nosso método de ensino de Redação, para ser eficaz, deveria orientar-se mais à execução, isto é, à aplicação prática dos princípios, do que à sua análise ou memorização.

Foto por Jeremy Bishop mostra surfista sobre uma onda como metáfora da habilidade de escrever bem

Escrever é uma habilidade prática, tanto quanto o surfe. O escritor, tanto quanto o surfista, pode até dominar todos os conceitos e teorias, mas se não souber como aplicá-las na prática, não permanecerá de pé por mais do que alguns décimos de segundo  – Foto: Surf, por Jeremy Bishop.

Um método orientado para a habilidade de escrever

Em palavras simples, o estudante de um eficiente curso de redação deve ser induzido a concentrar-se mais nos métodos de escrita, nas vantagens e desvantagens dos diferentes meios de dizer o que deseja, nas opções disponíveis para cada caso, do que na simples repetição mecânica de fórmulas ou padrões. Não haverá necessidade de incluir dezenas de exercícios repetitivos em cada lição, agregando artificialmente mil dificuldades e complicações, pois o próprio estudante se encarregará de experimentar os princípios da boa comunicação escrita aplicando-os aos próprios textos.

Os estudantes que se matriculam neste curso de redação têm o objetivo de aprender a escrever bem, não de “aprender um macete para tirar a nota mínima e passar de ano”. Pessoas com esse perfil precisam de conhecimento imediatamente aplicável, de opções para experimentar e testar a cada caso, além de critérios objetivos para pô-las em prática.

O estilo de explicação mais útil a quem deseja adquirir a habilidade de escrever sempre será ao estilo “Quando você quiser dizer tal coisa, é melhor usar esta técnica aqui; já quando quiser dizer o oposto, é melhor usar esta outra”. Cada aula deste curso de redação acrescentará à sua “maleta de habilidades de escrita”, uma ferramenta que você saberá quando e como usar competentemente.

Ora, ferramentas só valem quando são úteis ao seu dono. Portanto, trate de usá-las em todas as oportunidades!

Três regras práticas para adquirir a habilidade de escrever bem

Os pontos-chaves para o sucesso do estudante são três:

  1. Entender a aplicação dos princípios. O objetivo é capacitar o estudante a reconhecer por si mesmo, de modo automático, quando uma forma de escrever será mais adequada do que outra, libertando-o da dependência de um “professor de redação” para responder a suas dúvidas.
  2. Aplicar os princípios para corrigir e melhorar textos de outras pessoas. O exercício de reescrever textos de terceiros é extremamente importante, pois você desfrutará de completa objetividade para apontar defeitos e sugerir melhorias.
  3. Aplicar os princípios para corrigir e melhorar os próprios textos. Este é o objetivo final, o teste definitivo do sucesso deste curso de redação. Se o aluno, ao completar o curso, adquiriu independência suficiente para revisar os próprios textos, corrigindo os seus erros e aplicando todas as melhorias cabíveis, ele nunca mais em sua vida necessitará de outro “curso de redação”!

A partir do momento em que assistir à primeira aula deste curso de redação, você buscará ativamente oportunidades de aplicar todos os princípios nela abordados, seja a seus próprios textos, seja aos textos de outras pessoas. Desse dia em diante, você deixará de ser um leitor passivo, que simplesmente absorve o que está escrito, para tornar-se o que chamo de um “leitor-escritor”: você lerá todos os textos que caírem em suas mãos como se corrigisse um rascunho de sua própria autoria!

Como adquirir a habilidade de escrever bem tornando-se um leitor-escritor

Veja alguns exemplos de  perguntas que um leitor-escritor deve dirigir a si mesmo toda vez que ler um livro, uma revista, um jornal, um blog ou uma “redação” de autoria própria:

  • sinônimos mais adequados para estas palavras-chaves?
  • É possível melhorar algumas frases alterando ligeiramente sua estrutura sintática?
  • Será que o texto ficaria mais claro caso eu alterasse a ordem de alguns parágrafos?
  • As explicações, definições e conceitos estão claros o bastante ou ainda restam algumas ideias obscuras?
  • O autor procedeu à apresentação dos fatos com justiça e objetividade?
  • Os argumentos obedecem aos princípios da Lógica?

E assim por diante. O leitor-escritor, em busca do aperfeiçoamento contínuo de sua habilidade de escrever, fará de toda leitura um exercício útil e divertido de tudo o que terá aprendido neste curso de redação.

Caso você tenha o perfil do estudante a quem este curso se destina, isto é, seja movido pelo sincero desejo de adquirir a habilidade de escrever bem, faça já sua matrícula neste curso online de redação.

Como evitar a ambiguidade

Uma das principais preocupações de todo professor de Redação é conscientizar os estudantes dos graves inconvenientes provocados pela formulação ambígua de uma frase. Como não faço exceção a esta regra, apresentarei agora um exemplo prático, extraído de uma notícia do site O Antagonista:

Estamos projetando [esse aumento] até o final de 2018 para sinalizar que a situação na Venezuela é semelhante à da Alemanha em 1923 ou do Zimbábue no final dos anos 2000”, disse Alejandro Werner, chefe do Departamento do Hemisfério Ocidental do FMI.

O trecho “Estamos projetando (…) para sinalizar” da fala do executivo do Fundo Monetário Internacional, se entendido literalmente, sugere que, primeiro, o FMI decidiu qual era mensagem que desejava “sinalizar” e, só depois, efetuou a projeção. Se entendida desta forma, a declaração praticamente equivale a uma confissão de que a projeção seria mentirosa, enviesada, fabricada para “sinalizar” a mensagem de propaganda política que a instituição desejaria disseminar!

Ou seja, é o tipo de declaração que, por sua ambiguidade, embute o gravíssimo risco de provocar um incidente no plano político internacional, sujeitando a pessoa que a proferiu a uma vexaminosa retratação pública!

Observe como seria simples dizer exatamente a mesma coisa, eliminando por completo a ambiguidade e o risco de um incidente diplomático:

Nossa projeção sinaliza que a situação na Venezuela é semelhante à da Alemanha em 1923…”

Nesta versão, o leitor não tem o menor resquício de dúvida quanto ao fato de que, primeiro, foi feita a projeção e, somente depois, interpretou-se o “sinal” emitido pelo resultado  – isto é, que o FMI seguiu o correto procedimento científico aplicável ao caso.

É claro que o sentido pretendido pelo funcionário do FMI foi o da segunda versão. Mas é preciso MUITA atenção para esses casos em que o sujeito “quer dizer” uma coisa e diz outra. Afinal, a declaração se refere a fatos relativos ao âmbito da política econômica internacional, onde entrechocam-se um complexo de poderosos interesses econômicos e uma rede de disputas ideológico-partidárias pela predominância no campo político, pela conquista ou manutenção do poder. Em um contexto sensível como esse, uma frase mal-formulada, mesmo quando seguida de uma retratação, pode render “munição” para campanhas difamatórias movidas por adversários durante anos ou décadas.

Ora, sendo assim um fenômeno com consequências potencialmente tão graves, a grande dúvida é saber como evitar a ambiguidade em seus próprios textos.

Para vacinar-se contra a redação de frases ambíguas, siga estes princípios:

  1. Preste atenção aos múltiplos significados das palavras. A maioria dos verbetes de qualquer dicionário registra mais de um significado para a mesma palavra. Assim, é prudente avaliar se um desses significados não poderá produzir no leitor uma impressão oposta, ou radicalmente diferente, da que você pretendia.
  2. Empregue apenas palavras cujo significado e aplicação você domina inteiramente. Não se deixe levar por modismos: em vez de usar uma palavra por que “todo mundo diz isso”, escolha as palavras que mais fielmente reproduzam o significado pretendido.
  3. Atenção à concordância e à regência, tanto nominais quanto verbais. É comum que os erros de concordância induzam o leitor a acreditar erroneamente que o sujeito de uma ação é, na realidade, seu objeto, e vice-versa. Já os erros de regência provocam alterações radicais no próprio significado da palavra.
  4. Observe o efeito das outras palavras sobre o sentido da frase. O real significado de uma palavra em um texto – isto é, o seu “sentido” – depende também das demais palavras da frase, sendo comuns os casos de ambiguidade provocados pela atuação modificadora de uma palavra da frase sobre outra.
  5. Avalie o efeito das frases antecedentes. O princípio anterior também é válido para frases: muitas vezes, as frases antecedentes decidem o sentido das subsequentes, de modo que uma mesma frase pode adquirir sentidos radicalmente diversos conforme o texto em que se insere.

Seguindo estes princípios, você conseguirá praticamente erradicar as frases ambíguas de seus textos, evitando suas consequências potencialmente dramáticas. Caso deseje orientações mais detalhadas e intensivo treinamento em redação de boas frases, faça já sua matrícula!

Texto é Música!

Talvez exagere um pouco, mas não muito, se afirmar que um dos grandes obstáculos nacionais ao desenvolvimento da Alta Literatura é a “surdez” generalizada do nosso povo, patologia induzida por música ruim e péssimos escritores. Mas, por favor, não saia correndo para marcar uma consulta com seu otorrinolaringologista, pois me refiro a um certo tipo de “surdez” que acomete pessoas dotadas de audição perfeita sob o ponto de vista fisiológico, manifestando-se sob a forma de uma incapacidade de “ouvir mentalmente” o texto que estão lendo.

Sem um ótimo ouvido, ninguém entende Poesia, nem consegue apreciar a Alta Literatura. Isso explica, em grande parte, o fato de que quase ninguém lê poesia no Brasil. Em caso de dúvida, pergunte a seus amigos e colegas de trabalho, faculdade ou escola se eles têm o hábito de ler poemas!

Sem um ouvido pelo menos medianamente desenvolvido, ninguém consegue entender nem mesmo o simples texto de um memorando ou de uma ata de reunião de condomínio.

A única maneira de desenvolver o ouvido dos leitores é desenvolver o ouvido dos escritores. Em diversas lições deste curso online de Redação, procuro despertar a consciência dos alunos para a existência do problema, porque simplesmente NENHUM “curso de redação”, nem básico, nem avançado, com que eu tenha tido contato nos últimos 30 anos, sequer tocou de raspão neste que é um fato essencial da escrita:

Imagem contém texto: "Texto é Música".

Texto é Música: todo texto tem uma sonoridade própria que integra, amplia e modifica seu significado.

O desenvolvimento da percepção da sonoridade de um texto é tema complexo, que exigiria um curso específico, com vários meses de duração. No entanto, além dos exercícios constantes deste curso, há diversas providências simples e práticas que você pode tomar para melhorar gradativamente, por conta própria, sua habilidade de apreciar um texto sonoramente agradável. O que apresento a seguir são sugestões avulsas, sem ordem de prioridade, nem sequência cronológica obrigatória. Se você puder seguir todas as sugestões ao mesmo tempo, ótimo! Caso contrário, mesmo que você aplique apenas uma dessas sugestões durante algumas semanas, é praticamente certo que experimentará uma melhoria sensível em sua percepção de sonoridade. Faça o teste!

  1. Ouça música erudita diariamente por, no mínimo, 30 minutos – basta uma pesquisa no Youtube para encontrar milhares de opções! Comece com peças de Bach para cravo e de Mozart para piano solo, sem orquestra ou outros instrumentos. As melodias desses dois compositores para esses instrumentos costumam ser bastante nítidas, fáceis de entender e de memorizar, bastante semelhantes a um discurso humano proferido em voz alta, o que facilitará a tarefa de perceber as notas musicais separadamente, tais como se fossem “sílabas”.
  2. Após ter ouvido, por várias semanas seguidas, algumas dezenas de peças de Bach e Mozart para piano e cravo, dê rédea solta à sua curiosidade e ouça outros compositores (Vivaldi, Haydn, Chopin, Liszt, Beethoven, a lista é imensa!), outros instrumentos (harpa, violino, viola, oboé, clarineta, trompa, órgão, são dezenas!) e outras formas de composição (sonatas, sinfonias, concertos, óperas, balés, danças, e siga adiante!).
  3. Compre audiolivros e ouça-os mantendo-se atento às pausas, à respiração, às mudanças de ritmo e à entonação do “locutor-leitor”.
  4. Grave a própria voz lendo uma página de um livro de Alta Literatura. Faça várias versões, alterando o ritmo, a altura, a entonação. Usando um programa editor de áudio como o Audacity, “monte” as melhores frases de cada versão em uma única sequência de áudio e aprecie o resultado.
  5. Leia poemas de todos os períodos anteriores ao Modernismo (o Modernismo tem grande parcela de culpa pela nossa “surdez textual”), recitando-os em voz alta. Experimente diversas entonações, ritmos, expressões faciais, tons de voz…
  6. Grave um bloco de um telejornal ou programa de rádio e transcreva as falas do locutor. Depois, leia suas transcrições, “ouvindo” o texto com a voz do locutor em sua mente, sem reproduzir o vídeo ou o áudio originais.
  7. Leia histórias em quadrinhos criando, em sua mente, diferentes “vozes” para os diversos personagens.
  8. Leia em voz alta, para uma plateia de crianças, histórias de contos de fadas, criando vozes diferentes para todos os personagens.

A última dica é a mais importante: após experimentar algumas das opções acima, divirta-se inventando seus próprios exercícios de desenvolvimento de seu “ouvido literário”! Quanto mais você se divertir exercitando sua audição, mais rapidamente desenvolverá uma audição aguçada para as melhores obras da Literatura e aprimorará a sonoridade de seus próprios textos!

E, claro, caso tenha a intenção de aprimorar todos os outros aspectos de sua habilidade de Redação, faça agora sua matrícula!

O fim da mistificação

Roberto Menna Barreto, escritor e publicitário de sucesso nos anos 1970, conta que, no início de sua carreira, embora publicasse contos e poemas nos jornais da época, não conseguia escrever nem mesmo um anúncio classificado que prestasse. Chamado às falas pelo seu diretor de criação, ninguém menos do que Orígenes Lessa (!), ele conclui qual era, afinal, a origem de suas dificuldades:

Eu estava mistificado

Duas mãos moldando cerâmica.

O ato de redigir é semelhante ao de moldar a cerâmica: um processo de aperfeiçoamento contínuo até chegar à forma desejada. Fonte: https://pt.freeimages.com/photo/potter-1244837

Ele se sentia inseguro por ser jovem e encontrar-se trabalhando ao lado do “grande” Orígenes Lessa na “lendária” agência de propaganda J. Walter Thompson. Assim, ele fazia perguntas, pedia opiniões, solicitava críticas, anotava sugestões, tentando compilar, sistematizar e organizar todo aquele saber profundo e científico num conjunto de regras práticas que pudesse aplicar à produção dos brilhantes textos publicitários veiculados pela magnífica agência em nome de seus iluminados clientes.

Apenas por isso não conseguia escrever nenhum textinho publicitário que prestasse.

A mistificação acabou no momento em que o Orígenes Lessa, como um sábio monge hinduísta no alto dos picos do Himalaia, porejou a sabedoria destilada em gotas cristalinas:

“Roberto, Propaganda… é uma m*! Miserável, maldito quem inventou a propaganda! O melhor anúncio não vale um bom conto, um bom poema. Exceto para o imbecil que anuncia e para o imbecil que compra!”

Não aumento, não invento. O relato está no livro “Publicidade em Propaganda”, do próprio Roberto Menna Barreto.

Então, o que dizer a meus leitores? Que “Redação é uma m*”?

Não, de jeito nenhum! A habilidade de Redação é a essência da Arte Literária! Mas afirmo, com muita convicção, que muitos brasileiros, tais como Roberto Menna Barreto em sua juventude, não conseguem escrever porque são vítimas de um longo processo de mistificação quanto ao ato de escrever.

Antes de mais nada, confira no dicionário o significado da palavra “mistificar”:

mistificar

(mis.ti.fi.car)
v.
1.Fazer crer em mentira ou ilusão; enganar, iludir: O falso pastor mistificava seus seguidores.
[F.: Do fr. mistifier]

A verdade é que, nós, brasileiros, temos mania de complicar as coisas. De multiplicar regrinhas, no mais das vezes, inúteis. De inventar mil e uma dificuldades onde elas não existem. De valorizar aquilo que sabemos criando um ar de “mistério”, de “conhecimento esotérico”, acessível apenas a iniciados. Essa tendência nacional se expressa no linguajar pomposo, na voz empostada e no ar professoral com que se proferem as maiores platitudes sobre o simples, embora trabalhoso, ato de escrever.

Não, redação não é uma obra de engenharia, em que as partes componentes necessitam interagir com precisão milesimal para sustentar as maravilhas da criação verbal manifesta na palavra escrita.

O ato de redigir tem, sim, algumas semelhanças com a arte de produzir objetos em cerâmica. O artista começa com a intenção de fazer um objeto específico. Em seguida, reúne uma quantidade de barro compatível com o objeto que deseja fazer e começa a moldá-lo de acordo com essa intenção. Retira e acrescenta partes, molda, aperta, expande, manobra, sulca, alisa, e prossegue o trabalho até obter a forma desejada.

Já escritor começa a redigir muito antes do momento em que escreve a primeira palavra, no exato instante em que surge a intenção de dizer alguma coisa a alguém. Em seguida, ele começa a escrever. Escreve, muda, apaga, aumenta, emenda, corrige, reescreve, joga tudo fora e começa o trabalho novamente, até obter a forma desejada.

Obteve a forma desejada? Está pronto o texto. Pode publicar.

Simples assim. Se alguém lhe disser que escrever envolve algo mais do que isso, cuidado, pois provavelmente se trata de um mistificador!

Para escrever um bom texto, você precisa menos de regras do que de critérios para avaliar se o texto que você escreveu corresponde ao que você pretendia dizer. De critérios para manter, mudar, apagar, aumentar, emendar, corrigir, reescrever…

Este curso online de Redação se concentra precisamente no aprendizado e no exercício desses critérios. Você aprende, passo a passo, a identificar problemas e a desenvolver soluções em seus textos, para que você sempre diga exatamente o que deseja dizer, sem deixar margem para ambiguidades e mal-entendidos. Para conhecer e aprender a usar esses critérios simples sob a orientação de um professor interessado no desenvolvimento de suas habilidades, faça já sua matrícula!

Como escolher um tema para sua redação livre

No artigo intitulado “Como desenvolver bem o tema de sua redação“, explicamos algumas técnicas de desenvolvimento de textos partindo do pressuposto de que o tema estaria previamente dado, por exemplo, pré-definido pelo seu professor ou editor, pelo enunciado de uma questão discursiva de concurso, pelas linhas de pesquisa de seu programa de pós-graduação, ou alguma situação semelhante. Esse tipo de caso é relativamente fácil de resolver, pois você precisa apenas concentrar na escolha de uma abordagem, não sendo necessário “inventar um assunto” a partir do nada.

Entretanto, a experiência demonstra que há diversas situações em que se pode ser instado a redigir um texto a partir de um tema de sua própria escolha. Muitas vezes, essas situações representam uma boa oportunidade de mostrar suas habilidades como escritor ou seus profundos conhecimentos em um campo específico, aumentando suas chances de progresso acadêmico ou profissional. Veja a seguir algumas opções bastante eficazes para escolher livremente um tema de redação capaz de mobilizar seu interesse como autor e cativar a atenção de seus leitores.

1 – Escolha um assunto sobre o qual você não saiba muita coisa, sendo necessário pesquisar para descobrir. Os melhores artigos e textos trazem em seu bojo o entusiasmo do autor pela descoberta de informações interessantes durante a pesquisa. A novidade elimina aquele sabor de café ralo que surge quando a redação não passa de uma recompilação de “mais do mesmo”.

2 – Prefira temas que abordem assuntos concretos em vez de temas abstratos. Exemplos: Em vez de “Política”, escreva sobre a vida de um político; em vez de “Arte”, pesquise a obra de um artista; em vez de “Filosofia”, procure saber mais sobre o lugar e a época em que viveu um filósofo; e assim por diante. É mais fácil capturar o interesse do leitor quando ele se identifica com as pessoas e situações concretas abordadas em sua redação.

3 – Alguns dos temas mais interessantes são relacionados a coisas de que você gosta, usa ou mantém contato diário. Por exemplo:

  • Você gosta de batatas fritas industrializadas? Como é produção dessas batatas? Como são descascadas? Como são cortadas? Como se adiciona o sal? Como é feita a fritura? Como se faz para escorrer o óleo da fritura numa fábrica? Como são colocadas dentro daquele saquinho plástico? Como ele é fechado?
  • Você gosta de refrigerantes? Quais são os ingredientes dos refrigerantes? Por que eles levam gás? Como o gás é adicionado? Como se faz a mistura dos outros ingredientes? Que tipo de água é utilizada? Como se faz para engarrafar o refrigerante? E o enlatamento, como é feito?
  •  Você usa papel para escrever? Como é feito o papel? Como se extrai a matéria-prima? Como é transportada até o local de produção? Que tipo de transformações essa matéria-prima precisa sofrer na fábrica? Como é feito o corte do papel em folhas e resmas? Como são adicionadas as linhas de pauta?
  • Você usa canetas esferográficas? Como elas funcionam? Quando foram inventadas? Elas funcionam com que tipo de tinta? Qual o material usado na sua fabricação? Como é feita a injeção de tinta naquele tubinho estreito?
  • Você mora numa casa ou edifício que, obviamente tem um telhado. Que tipo de telhado foi usado na construção de sua casa ou edifício? Quantos e quais são os diferentes tipos de telhado? Quais são os diferentes tipos de telha? De que são feitos? Quais são as vantagens e desvantagens de cada um? O mesmo tipo de telhado que é usado num país tropical onde chove muito pode ser usado em países que sofrem com nevascas? Sim ou não? Por quê?
  • De que são feitos os pneus de seu carro? Qual a matéria-prima e como é extraída? Como são fabricados? Quando esse processo foi inventado e por quem? Quais são as qualidades de um bom pneu?
  • Você está digitando num teclado que tem as letras todas misturadas numa ordem estranha: “qwertyuiop“, etc. Quem inventou essa ordem? Por que foi inventada? Por que esse padrão persiste até os dias de hoje?

4 – Depoimentos, testemunhos e entrevistas com pessoas reais sempre atraem o interesse. Lembre-se de “fazer o dever de casa” antes de se encontrar com a pessoa de quem coletará o depoimento, pesquisando o assunto previamente e formulando as perguntas com antecedência. Uma dica importante é jamais perguntar o que você poderia descobrir sozinho pesquisando no seu motor de buscas favorito! O que você quer obter é a opinião, a vivência, a experiência, o conhecimento ou o sentimento exclusivos daquela pessoa, não uma resposta padronizada que um estudante calouro poderia recitar de cor.

Qualquer um dos métodos expostos tem potencial para resultar em uma redação tema livre muito interessante para você e seus leitores. O importante é que você sempre tenha em mente que sua função, como escritor, é comunicar ideias novas, interessantes e estimulantes para seu leitor. Se você caprichar bem na escolha de um tema livre, terá grande possibilidade de sucesso nessa tarefa.

Redação é Comunicação

Uma das primeiras ideias que preciso ensinar a todo estudante de Redação que se matricula neste curso é que “saber Gramática” não basta para quem deseja aprender a escrever. É uma preocupação “necessária”, mas não “suficiente”. Mais ainda: a interferência excessiva da preocupação com regras gramaticais durante o processo de criação do texto pode obstá-lo de forma irremediável.

Imagem mostra um lápis verde sobre papel reciclado de cor amarronzada.

Texto é comunicação. Escrever é, apenas e simplesmente, um meio de realizar sua intenção de dizer alguma coisa a outras pessoas. Imagem: Green Pencil On Brown Recycle Paper por khunaspix.

A Gramática não é um sistema dedutivo, isto é, um conjunto de regras a partir das quais seja possível deduzir um texto perfeito. A Gramática é um sistema indutivo, elaborado a partir dos textos redigidos pelos melhores escritores de cada idioma.

Não fosse assim, todos os professores de Gramática seriam ótimos escritores. Na prática, lendo os compêndios de Gramática redigidos pelos mais diversos autores, constatamos sem dificuldade que o texto da maioria, bem ao contrário, é irremediavelmente “chato”.

A “Gramática”, tal como se apresenta hoje em dia (já foi diferente em outras épocas) não se presta ao papel de guia para a produção de textos, limitando-se ao estabelecimento de um conjunto básico de regras de uniformização (isto é, de “unidade formal”) para evitar a desagregação do idioma.

A Gramática me informa se devo escrever “beringela” ou “berinjela”, mas não me esclarece se o beijo dela com sabor de berinjela recomenda uma escova de dentes ou se condena como uma péssima rima.

O trabalho do escritor é sintético. O trabalho do gramático é analítico.

O escritor é um faraó que constrói uma pirâmide. O gramático é um sacerdote que mumifica um faraó.

Não há comparação possível ou adequada entre o que hoje se “vende” como “Gramática” e a atividade do escritor.

Entenda o seguinte: Redação é comunicação.

Confira os diferentes significados do verbo “comunicar” no seu dicionário favorito e, em seguida, entenda que a frase “Redação é comunicação” permanece válida seja qual for o sentido adotado. Vejamos alguns:

1. Transmitir informação a alguém: Um texto sempre transmite algum tipo de informação a outra pessoa. Esta, aliás, é sua função mais elementar.

2. Conversar em busca do entendimento: Todo texto é dirigido a um leitor a quem se pretende influenciar de alguma forma, seja no nível da opinião, do entendimento, do sentimento, da apreciação estética, entre muitos outros.

3. Conectar lugares. Uma estrada de ferro, neste sentido, é um meio de “comunicação”, tanto quanto os canais que conectam vasos “comunicantes” nos problemas de Física. Um texto, neste sentido, realiza a “comunicação” entre duas mentes, entre dois corações, permitindo a transferência de conteúdos de um cérebro para outro.

4. Contagiar. Os textos são os maiores “vetores” de disseminação de ideias por contágio de que se tem notícia, tanto que os profissionais de mídia social buscam avidamente uma fórmula para tornar “virais” (contagiantes) os seus textos.

5. Anunciar, fazer saber. Num texto, o escritor anuncia, faz saber aos seus leitores (e potencialmente, ao mundo) seja o que for que exista em sua mente.

Entre muitos outros. “Redigir é comunicar” em todos os sentidos imagináveis.

Agora, responda-me: o que tem essas coisas a ver com a Gramática que nos ensinaram na escola?

Correto: absolutamente nada.

Para redigir um bom texto, você precisa da Gramática apenas para manter o padrão convencionado como “correto” em referência à Ortografia, à Concordância, à Regência, à Sintaxe, e assim por diante. Ao seguir o padrão gramatical, você se certifica de que:

  1. O leitor não terá dificuldade em entender o que você diz por uma simples questão formal;
  2. Ele não será distraído do conteúdo de seu texto por uma ou mais formas “erradas” nele presentes.

Em resumo, mantenha a seu lado pelo menos um bom compêndio Gramática enquanto estiver entregue à tarefa de redigir. Consulte-o sempre que necessário e decore todas as regras que puder. Mas jamais perca de vista o fato de que seu mais elevado objetivo é estabelecer comunicação com seu leitor, é dizer alguma coisa a outra pessoa. Primeiro, escreva o que quer dizer à outra pessoa, sem interromper o fluxo do pensamento. Somente após dizer tudo o que deseja é que você deve revisar o seu texto em busca da correção gramatical absoluta.

Os segredos da redação de bons parágrafos

Uma vez que o estudante de um curso de redação tenha dominado os fundamentos da composição de boas frases, o desafio seguinte é aprender a estruturar essas frases em parágrafos. Intuitivamente, o estudante sabe que os parágrafos que se apresentam como longos “blocos” de texto intimidam o leitor, dificultam a leitura e retardam a compreensão da mensagem. Por outro lado, um texto composto apenas por parágrafos curtíssimos, com uma ou duas frases cada um, assemelha-se mais a uma coleção de slogans publicitários, a um punhado de frases soltas que não se integram para formar uma sequência lógica de pensamento. O estudante é, portanto, permanentemente acometido por dúvidas quanto ao “momento certo” de “quebrar” a sequência de frases, dando início a um novo parágrafo. Os livros-textos tradicionais sobre técnica de redação não colaboram para mitigar essa sensação de incerteza com suas explicações repletas de jargão incompreensível e de regras seguidas de dezenas de exceções. Neste artigo, proveremos algumas orientações práticas para ajudá-lo a reconhecer o “momento certo” de pressionar “Enter” no teclado de seu computador e dividir seu texto em blocos de frases coerentes e agradáveis de ler.

Foto mostra livro aberto em ‘close’ com visível divisão em parágrafos e um par de óculos de leitura repousando sobre suas páginas

A divisão do texto em parágrafos auxilia a leitura, reduzindo o cansaço visual do leitor. Fonte: Opened book by Dan em Freedigitalphotos.net.

A dupla natureza dos parágrafos

A divisão de um texto em parágrafos é uma decisão consciente motivada por pelo menos um entre dois objetivos. O primeiro é a redução do cansaço visual do leitor. Um texto composto por grande número de parágrafos excessivamente longos, que se estendam por uma página inteira ou mais, torna-se de leitura difícil pela maioria das pessoas. Um dos sintomas de cansaço visual durante a leitura é a situação em que o leitor se distrai e “perde o fio da meada” durante a leitura de um parágrafo mais longo e experimenta dificuldade em encontrar o ponto em que se encontrava no momento em que ocorreu a distração. Conforme esses episódios se sucedem, o leitor perde o ânimo e desiste. A divisão do texto em parágrafos previne a ocorrência desse problema ao criar “pontos de referência visual” e “pausas para descanso” (linhas em branco) periódicas para que o leitor administre melhor seu fluxo de leitura.

A segunda motivação para que um leitor inclua parágrafos em seu texto é a possibilidade de dividir sua exposição, argumentação, descrição ou narrativa, apresentando-a em partes visualmente demarcadas numa sequência lógica. Por exemplo, observe este seção deste artigo: na primeira frase, dissemos que a divisão de parágrafos pelo escritor seguia pelo menos um entre dois objetivos. Portanto, dedicamos o primeiro parágrafo desta seção a explicar o primeiro objetivo e, o segundo parágrafo, ao segundo objetivo. Houvesse um terceiro e um quarto objetivos, faria todo o sentido apresentá-los, respectivamente, num terceiro e quarto parágrafos nesta mesma seção.

Em síntese, a divisão de texto em parágrafos obedece ao duplo critério de (1) conforto visual e (2) organização das informações. Ao agrupar informações em parágrafos, o escritor simplifica o entendimento do texto, esclarecendo visualmente para o leitor quais ideias ou fatos interconectam-se em sua linha de raciocínio.

Os três tipos básicos de parágrafos

Do ponto de vista da organização das informações, os parágrafos podem ser classificados em três tipos elementares relacionados à sequência em que aparecem no texto.

O primeiro parágrafo é chama-se “parágrafo de abertura”. Sua função é despertar no leitor o interesse pelo texto, dando início ao processo de fazê-lo seguir sua argumentação até o final. Ele serve como uma espécie de “anzol” que “fisga” o interesse do leitor. Se considerarmos que, na internet, uma proporção entre 26 e 40% do total dos visitantes de um site não vão além de uma rápida espiada na página, número que sobe para até 60% no caso de sites de conteúdo, o parágrafo de abertura assume importância decisiva no sucesso de um artigo para publicação na web. No mínimo, o parágrafo de abertura deve dizer (1) qual é o assunto do texto como um todo, (2) quais serão as informações mais interessantes apresentadas no texto e (3) de que modo o leitor se beneficiará ao ler o texto até o final.

Os parágrafos que se seguem ao de abertura são chamados de “parágrafos de desenvolvimento”. Neles, o escritor apresentará as informações em que se apoiam as promessas do parágrafo inicial: fatos, argumentos, explicações, descrições, depoimentos, documentos, citações, testemunhos, exemplos, entre muitas outros tipos de informação. Os parágrafos de desenvolvimento têm a missão de manter aceso o interesse do leitor durante seu “passeio” pelas ideias do autor. Incluir “atrações especiais” e “surpresas” durante esse “passeio” é essencial num contexto em que mais da metade dos visitantes de um artigo na internet não chegam a ler a metade do seu conteúdo! No caso de artigos científicos, um estudo chegou até a afirmar que, em sua maioria, seriam lidos apenas pelos seus autores e pelos editores responsáveis por sua publicação! Mais adiante, veremos algumas ideias que você poderá aplicar a seus parágrafos de desenvolvimento para torná-los mais atraentes e interessantes para os seus leitores.

Finalmente, precisamos tratar do parágrafo de encerramento. Caso você tenha obtido sucesso em conduzir o leitor até o último parágrafo, premie-o por seu esforço e boa vontade com um resumo rápido, em poucas frases curtas, da linha de raciocínio apresentada no texto para que seu leitor registre-as facilmente na memória. Em seguida, recorde, também muito rapidamente, os benefícios que ele obteve ao acompanhar o seu texto até o fim. Por fim, inclua uma pequena surpresa: uma conclusão inesperada, uma informação curiosa, uma leve ironia, um estímulo ao aprofundamento, uma exortação. O importante é que seu leitor sinta que valeu a pena ter lido o seu texto, desde a primeira até a última frase!

Divisão dos parágrafos de desenvolvimento

Há incontáveis maneiras de redigir parágrafos de desenvolvimento. De fato, é neles que o autor apresenta o seu pensamento em toda a sua originalidade, o lugar em que ele demonstra a extensão e a profundidade do seu conhecimento do tema sobre o qual discorre no texto. Por esse motivo, considero inúteis e contraproducentes os modelos padronizados de parágrafos contidos em muitos livros e cursos de redação. Esses modelos oferecem uma solução excessivamente cômoda para o estudante, incentivando-o a ceder à preguiça. Na melhor das hipóteses, os cursos baseados em modelos rígidos de redação de parágrafos realizarão a façanha de conseguir que todos os seus alunos escrevam de forma idêntica, resultando impossível distinguir um autor de outro ao erradicar toda a criatividade do processo de redação.

Sobre esse assunto, vale dizer algumas palavras sobre um “bicho-papão” que confunde mais do que esclarece, em torno do qual se faz muito barulho por nada: o famoso “tópico frasal”. Para começar, trata-se de uma má tradução da expressão inglesa “topic sentence”, para cuja tradução proponho as expressões “frase-tópico” ou “frase-tema”. Como diz o nome, a frase-tema é apenas uma frase que explicita sinteticamente o “tema” (no sentido de “tópico” ou “assunto”) do parágrafo em que foi redigida. Ora, se você for redigir uma frase-tema para todos os parágrafos de seu texto – uma exigência absurda que já li em edital de concurso público! – o seu texto resultará inexprimivelmente chato, afugentando os leitores logo no início de sua exposição.

Em vez de se preocupar com regras e modelos fixos que farão de seu texto um manancial inesgotável de tédio para seu leitor, você deveria preocupar-se em enriquecer os seus parágrafos com fatos, dados, números, comparações, narrativas, descrições, explicações, citações, e assim por diante. Faça de cada parágrafo uma fonte de novidades interessantes para seu leitor e ele terá prazer em acompanhá-lo até o fim de seu texto.

Finalmente, não se esqueça de que cada parágrafo de desenvolvimento deve conter uma, e apenas uma, informação principal, a que chamamos de “ideia central”. Não tente “estofar” seus parágrafos com informações em excesso, ou você confundirá o leitor. O que você precisa fazer é apresentar, explícita ou implicitamente, essa ideia central em algumas poucas frases e, em seguida, rodeá-la de informações secundárias que lhe deem sustentação.

Conclusão

A boa redação de parágrafos é uma competência fundamental para fins de legibilidade ao contribuir para a redução do cansaço visual do leitor e ao demarcar visualmente a disposição das informações ao longo do texto. O seu desafio como escritor é redigir parágrafos que capturem a atenção e mantenham o interesse dos leitores. Para realizar esse objetivo, uma combinação de informações interessantes aliadas a alguma criatividade na exposição de suas ideias terá efeito muito superior ao dos modelos padronizados de redação de parágrafos, que tentam prever até mesmo a posição do “tópico frasal” (“frase-tema”) em cada um deles. Caso você deseje aprender todos os detalhes concernentes à redação de parágrafos, inclusive técnicas específicas para redação de parágrafos de abertura, de desenvolvimento e de conclusão, faça já sua matrícula em nosso curso online de redação! Nossos planos são flexíveis e você certamente encontrará uma opção adequada à suas condições financeiras e à sua disponibilidade de tempo.

Seis regras para obter sucesso em um curso de redação

Muitas das pessoas que se matriculam em um curso de redação se queixam de que continuam experimentando dificuldades para escrever mesmo após completar o programa. Embora o curso escolhido possa ter sua parcela de responsabilidade sobre esse resultado, é conveniente verificar se o estudante realmente cumpriu sua parte, efetuando todos os esforços imprescindíveis à absorção do conteúdo e das técnicas ministradas. Devemos sempre nos lembrar de que a redação de bons textos em Língua Portuguesa é uma atividade que une teoria e prática por meio da integração de conceitos à sua aplicação sob o olhar atento de um instrutor experiente e interessado no desenvolvimento de suas habilidades. Não basta assistir às aulas: é preciso fazer, praticar, exercitar-se, agir! No entanto, também não basta apenas praticar e agir: você precisa saber o que fazer, por que fazer e como fazer para conquistar o sucesso! Seguindo esse princípio, apresentamos a seguir 6 regras para garantir o máximo aproveitamento do seu curso de redação.

Mulher loura e sorridente com capacete de operário empunha uma marreta de cabo vermelho.

Não basta ter as ferramentas à mão: você precisa praticar o seu uso sob a orientação de um professor dedicado ao seu desenvolvimento. Fonte: “Woman With Hammer” by marcolm – Freedigitalphotos.net

Regra nº 1: Leia atentamente o texto da lição

Um curso de redação sempre envolverá o estudo de algum tipo de material para leitura, seja um livro ou uma apostila: afinal, só é possível ensinar redação a uma pessoa que saiba ler e entender o que leu! Portanto, mesmo que você esteja frequentando um curso presencial, não deixe de ler o material preparado pelo instrutor. O texto didático sempre contém instruções, observações, explicações e detalhes impossíveis de abordar em sala de aulas. Além disso, a leitura facilita a memorização e estimula a imaginação, forçando você a raciocinar sobre os assuntos em estudo e aumentando o aproveitamento geral da parte teórica e conceitual.

A leitura das lições do curso escolhido também tem outra vantagem: ao examinar atentamente o texto redigido pelo seu instrutor, você descobrirá rapidamente se ele sabe ou não fazer o que pretende ensinar a você. Não se iluda: a Redação é um campo de conhecimento em que só quem sabe fazer está apto a ensinar!

Regra nº 2: Certifique-se de que entendeu o que leu

Ler um texto e “achar” que o entendeu sem, de fato, ter entendido coisa alguma, é pior do que não lê-lo. Um entendimento defeituoso pode acompanhá-lo durante anos, transformando-se em um hábito difícil de abandonar quando você finalmente descobre qual era o entendimento correto.

O primeiro passo para assegurar-se de que entendeu corretamente um texto é sublinhar TODAS as palavras desconhecidas e consultar seu significado em pelo menos um bom dicionário. Caso o dicionário apresente diversas definições para a palavra consultada, compare-as com o texto até entender qual foi o sentido pretendido pelo autor. Caso as definições do dicionário não resolvam totalmente suas dúvidas, pesquise as palavras desconhecidas em enciclopédias ou em publicações especializadas. O importante é vencer o vício de correr os olhos sobre um texto e “entendê-lo mais ou menos”. Sempre parta do princípio de que, ou você entendeu tudo, ou não entendeu nada!

Regra nº 3: Leia e entenda o enunciado dos exercícios

Por algum motivo cuja compreensão me escapa por completo, alguns professores gostam de incluir “pegadinhas” nos enunciados dos exercícios. Em primeiro lugar, não creio que o enunciado de um exercício – especialmente um exercício constante em uma prova – seja o lugar certo para fazer piadas e plantar armadilhas. O estudante, ao fazer um exercício, estará concentrado, um pouco tenso e, provavelmente, ligeiramente ansioso. Ele está ocupado tentando aprender algo que não sabe. Sua atitude é séria. Uma “pegadinha”, nesse contexto, tem grande chance de não ser percebida.

Em segundo lugar, qual o propósito didático, educativo, de uma “pegadinha”? Na melhor das hipóteses, o professor avaliará no estudante apenas a sua capacidade de reconhecer essas inadequadas manifestações de humor fora de hora, uma habilidade completamente irrelevante nos contexto de um curso de redação e na maioria das atividades profissionais.

Finalmente, aquilo que se convencionou chamar de “pegadinha” é, linguisticamente, a redação de um texto ambíguo com a finalidade de induzir ao erro. Definitivamente, uma péssima prática de redação!

De todo modo, as “pegadinhas” estão em toda parte, em todos os cursos, apostilas e provas de concursos. Por isso, certifique-se de ler e entender o que pede o enunciado, eliminando toda a ambiguidade.

Regra nº 4: Faça o que o enunciado pede, tudo o que enunciado pede e apenas o que o enunciado pede

O aspecto mais importante de entender corretamente o enunciado de um exercício é descobrir o que o instrutor, professor ou examinador deseja que você faça. Se você sempre fizer exatamente o que foi pedido no enunciado, terá sempre aproveitamento máximo de seus exercícios.

Sugerimos que você sempre faça “tudo” o que o enunciado pede, mas “apenas” o que o enunciado pede. O motivo é simples. Todo exercício de um curso de redação é formulado com a finalidade de ensinar, treinar ou desenvolver uma habilidade fundamental, que você aplicará nos textos que redigirá em sua vida. Deste modo, você deve se concentrar totalmente em dominar a habilidade para a qual o exercício foi concebido.

Ainda que, em outras áreas da vida, seja importante e útil “fazer mais do que é pedido”, recomendamos que você não disperse sua atenção procurando ser “criativo” na interpretação dos enunciados, para não diluir o seu treino em esforços que não beneficiarão o aprendizado da habilidade principal. A melhor recomendação é, sempre: siga à risca as instruções do enunciado, reservando a criatividade para o momento em que for redigir um texto original.

Regra nº 5: Estude as correções e comentários do professor

A maior vantagem de um curso de redação, seja presencial ou à distância, é a orientação personalizada que só pode ser oferecida por um professor. O professor deverá proceder à correção detalhada dos exercícios, incluindo não só a identificação dos “erros”, mas critérios objetivos para entender a correção, explicações teóricas ou conceituais indispensáveis ao entendimento da correção, indicação de opções para melhorar e, eventualmente, exercícios extras para reforçar os pontos não muito bem absorvidos pelo estudante. Esses comentários são a parte mais valiosa de todos os cursos de redação: prestigie, valorize e leve a sério esse esforço, procurando incorporá-los à sua técnica.

Regra nº 6: Aplique os conceitos aprendidos aos seus próprios textos

Um curso de redação pode incluir muita teoria mas o objetivo final é sempre decididamente prático: ao final do curso, você deverá estar capacitado a redigir bons textos em Língua Portuguesa com muito mais desenvoltura do que antes de matricular-se. A única maneira de obter esse resultado é aplicar os conceitos, técnicas e habilidades aos textos que você precisa redigir em seu dia a dia.
Seja num simples e-mail pessoal dirigido a um amigo, numa prova da escola ou faculdade, ou nos relatórios que você redige em seu local de trabalho, esforce-se sempre para lembrar-se das técnicas e habilidades aprendidas e aplicá-las à sua situação real. Somente agindo desta forma essas técnicas e habilidades tornar-se-ão parte de você, capacitando-o a usá-las de forma automática para produzir textos de nível cada vez melhor.

Conclusão

Aprender a redigir bons textos em Língua Portuguesa é um objetivo cuja concretização requer esforço bem maior do que o de assistir a uma aula expositiva ou de ler superficialmente as instruções de uma apostila ou de um livro. Leve a sério as lições, lendo-as com atenção e certificando-se de que entendeu todas as explicações e exemplos. Fique atento aos enunciados dos exercícios e siga-os à risca, evitando dispersar sua atenção da habilidade principal que constitui o objeto do exercício. Valorize as correções e comentários do professor, pois neles você encontrará a orientação personalizada para resolver as suas dificuldades específicas. Finalmente, tenha coragem de aplicar os conceitos do curso aos desafios reais de produção de textos que você enfrentará em sua vida.

Se você estiver pronto para seguir todas essas regras para obtenção de sucesso em um curso de redação, em que contará com a orientação de um instrutor experiente e comprometido em ajudá-lo a realizar o seu potencial como autor de redações de alto nível, faça já sua matrícula neste curso online de redação. Nosso curso segue todos os princípios estabelecidos neste artigo e você conta com três planos de curso bastante flexíveis, para que você escolha o mais adequado à sua disponibilidade de tempo para estudo e às suas possibilidades financeiras.

Como desenvolver bem o tema de sua redação

Os cursos de redação tradicionais tendem a dirigir excessiva atenção à escolha do tema. Uma expressiva parcela dos esforços dos estudantes nos cursinhos preparatórios para vestibulares e concursos públicos é orientada pela intenção de abranger o maior número possível de temas considerados “prováveis”. Esse exercício de adivinhação é tão enganoso quanto contraproducente, pois gera no candidato uma falsa sensação de segurança que pode prejudicá-lo caso surpreendido por um tema inesperado no momento da prova. Por outro lado, a própria exigência de redação sobre um “tema” que não seja coberto pelo conteúdo programático previsto no edital do concurso é tão estapafúrdio quanto injusto, pois um bom candidato arrisca-se a ser eliminado apenas por desconhecer um tema arbitrariamente selecionado pela banca examinadora. No entanto, como a abordagem que orienta este curso é a da solução dos problemas, apresentaremos a seguir algumas técnicas para abordar com sucesso praticamente qualquer “tema” que lhe seja proposto.

Mapa mental articula 6 possíveis abordagens de um tema qualificadas com ícones.

Figura 1: O tema é muito menos importante do que a abordagem escolhida para desenvolvê-lo em sua redação. Imagem criada pelo autor.

O que é um “tema”?

Como mencionamos no artigo “Sobre a polêmica do aborto e o significado da voz passiva”, antes de participar em qualquer discussão é indispensável assegurar que todos estejam de acordo quanto ao significado das palavras empregadas pelos participantes. Assim, para começar, definiremos o que é um “tema”.

O verbete “tema”, nos dicionários consultados, registra diversos significados diferentes. No sentido comumente usado pelos cursos e professores de redação, os dicionários limitam-se a registrar sinônimos genéricos não muito esclarecedores: “objeto”, “assunto”, “tópico” ou “matéria”. Ao lado desse significado genérico, encontramos diversas outras definições técnicas. O significado da palavra “tema” no campo da Linguística é o que se revela mais útil para os estudantes de Redação:

7. [Linguística] Parte de um enunciado sobre a qual o resto do enunciado fornece informação ou que o resto do enunciado comenta ou questiona (ex.: os temas das frases estão sublinhados: “O Manuel comeu o bolo”; “O bolo, o Manuel comeu-o”). = TÓPICO

“tema”, in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, https://www.priberam.pt/dlpo/tema [consultado em 28-11-2017].

Podemos entender, a partir dessa definição, que o “tema” de uma redação é uma informação conhecida tanto pelo escritor quanto pelo leitor. Por exemplo, para que seja possível e útil redigir um texto sobre o tema “Problemas econômicos brasileiros do último quinquênio”, é indispensável que você e o seu leitor saibam onde fica o Brasil, o que é Economia, o que significa a palavra “quinquênio”, e assim por diante.

O tema é, portanto, o conhecimento compartilhado por você e seu leitor, uma informação que ambos conhecem, sobre a qual você acrescentará informações originais e potencialmente interessantes para seu leitor. Observe que não há necessidade de que essas “informações novas” sejam descobertas científicas revolucionárias ou um grandioso desenvolvimento filosófico. Um raciocínio simples e claro, temperado com alguma especulação bem fundamentada pode ser suficiente para obter sucesso na maioria das redações de vestibulares e concursos públicos.

O tema não é tão importante quanto sua abordagem

Tendo entendido que o “tema” é uma informação redundante, isto é, sobre a qual não há novidade, é fácil perceber que o interesse primordial de um leitor por qualquer texto que lhe caia nas mãos não está no tema em si, mas na contribuição original do autor, nas informações adicionais que o texto provê. Assim, seja qual for o tema que você tenha diante de si, sua primeira pergunta será “Qual a melhor abordagem”?

Um mesmo tema pode ser abordado de tantas maneiras diferentes quantos sejam os escritores engajados na tarefa de escrever sobre ele. O problema de selecionar uma abordagem depende das condições que você enfrentará durante a redação:

  • Num contexto de prazos dilatados, com ampla possibilidade de estudo, pesquisa e aprofundamento – por exemplo, redação de teses e dissertações, monografias, livros, artigos científicos – a abordagem surge naturalmente como decorrência do aprofundamento no tema. A acumulação de leituras sucessivas sobre um mesmo tema leva o escritor a conhecê-lo em cada vez maior profundidade, tornando fácil a tarefa de escolher uma abordagem.
  • Num contexto de prazos exíguos, com limitada possibilidade estudo, pesquisa e aprofundamento – por exemplo, redação de artigos sob encomenda para revistas e sites, redação de provas para concursos públicos e vestibulares – a abordagem surgirá, inevitavelmente, a partir de informações acumuladas em seus estudos e pesquisas prévios, ou em sua própria experiência.

Deveria ser desnecessário dizer que, caso você não tenha absolutamente nenhuma informação sobre um tema, não há a menor possibilidade de que você consiga escrever uma única linha sobre ele. Portanto, a exposição que se segue parte do pressuposto de que você sabe alguma coisa sobre o tema mas não dispõe da possibilidade de pesquisa e aprofundamento. Em situações como essa, a solução mais prática é efetuar o que chamo de “pesquisa da memória”.

Selecionando a abordagem do tema com a “pesquisa da memória”

O método de “pesquisa da memória” é bastante simples. Durante uma fração do tempo total disponível para redigir o texto (numa prova de concurso típica, 10 minutos costumam ser suficientes), você tomará nota de todas as informações relacionadas ao tema de que consiga lembrar-se, sem se preocupar em colocá-las em ordem. Findo esse prazo, você dedicará mais algum tempo a experimentar diferentes combinações das informações coletadas na memória. Quando você perceber que uma dessas combinações forma uma sequência coerente, dê-lhe um “título” e continue experimentando novas combinações até o esgotar o prazo definido para essa tarefa (mais uma vez, numa prova típica de concurso, você deverá concluir esta etapa em 10 minutos ou menos).

Ao completar o prazo, você terá diferentes conjuntos de informações ordenadas em sequências coerentes e agrupadas sob “títulos” descritivos. Cada um desses conjuntos representa o que chamamos de “abordagem do tema”, entendida como a manifestação original de sua criatividade, imaginação, estudo e experiências de vida em torno de uma informação que você tem em comum com o seu leitor.

O próximo passo é selecionar uma dessas abordagens para dar início ao processo de redação do texto propriamente dito. Os critérios de seleção podem variar muito de acordo com o contexto; por exemplo, o enunciado do tema pode incluir certas exigências ou restrições que você não pode deixar de obedecer e que, portanto, inviabilizarão a escolha de certas abordagens. De todo modo, o principal critério é sempre a disponibilidade de informações na memória sobre os tópicos incluídos em cada abordagem. Se você precisa redigir um texto recorrendo apenas a informações coletadas em sua memória, é vital qualificar as diferentes abordagens, tal como fizemos na figura que ilustra este artigo, em função de nossas preferências e capacidades. Na figura, usamos pequenos ícones para ilustrar nossa atitude em relação às diferentes abordagens:

  • Abordagem 1: Não consigo me recordar de informações cruciais ao sucesso desta abordagem.
  • Abordagem 2: Incompatível com as exigências do leitor.
  • Abordagem 3: Adoraria seguir esta abordagem, mas não estou certo de que me lembrarei de tudo o que é necessário para fazê-lo com sucesso.
  • Abordagem 4: Tenho algumas boas ideias para escrever um ótimo texto nesta abordagem.
  • Abordagem 5: Abordagem perigosa por dar margem a mal-entendidos.
  • Abordagem 6: Não estou seguro se é uma boa ideia seguir este caminho.

É evidente que não é obrigatório o uso desses ícones específicos para qualificar as diferentes abordagens. Sinta-se à vontade para adotar critérios como “1 a 5 estrelas”, “notas de 1 a 10”, “conceitos da A a F”, ou qualquer outro que você achar melhor. O importante é que você faça uma escolha consciente dos potenciais riscos e benefícios de cada escolha, descartando imediatamente todas as opções que tragam prejuízo evidente ou risco desnecessário.

Conclusão

O “tema” de uma redação é um fragmento de informação compartilhada entre o escritor e o leitor. Deste modo, a verdadeira contribuição original do escritor não será o tema, mas a “abordagem” que fará dele. A abordagem de um tema sempre dependerá do tempo disponível para estudo e pesquisa: quando esse tempo for reduzido ou inexistente, o escritor precisará recorrer à pesquisa da memória, um método simples para gerar múltiplas abordagens viáveis. Finalmente, você precisará adotar critérios objetivos para selecionar a melhor abordagem antes de dar início à redação do texto propriamente dito.

Para saber mais sobre a pesquisa de temas, a seleção de abordagens, o método de pesquisa da memória e muitas outras técnicas interessantes para escrever excelentes redações sobre os mais variados temas, matricule-se já em nosso Curso Online de Redação!

A polêmica do aborto e o significado da voz passiva

Um cartaz contendo dizeres extravagantes em uma recente manifestação pró-abortista suscitou intensa polêmica nas redes sociais, opondo os partidários da legalização aos grupos “pró-vida”, isto é, radicalmente hostis à prática do aborto. O cartaz, concebido por um grupo ativista cognominado “Católicas pelo Direito de Decidir”, estampava em destaque os seguintes dizeres: “Até Maria foi consultada para ser mãe de Deus – Católicas na luta pelo aborto legal e seguro”. Esse cartaz foi amplamente reprovado pelos grupos pró-vida sob a alegação de que, embora Maria realmente tenha dito “sim” ao anjo e, deste modo, caracterizado a “consulta”, ela o teria feito “antes” de engravidar, e não “depois”.

Quem estará com a razão? Neste artigo, veremos que a querela tem origem menos religiosa, teológica, política ou ideológica do que linguística, resultante de um equívoco elementar, cometido por ambos os lados, no campo da comunicação, expressão e intelecção de textos em Língua Portuguesa.

Militante exibe cartaz em manifestação: ‘Até Maria foi consultada para ser mãe de Deus’

Em manifestação pública, militante do grupo “Católicas pelo direito de decidir ostentam cartaz: “Até Maria foi consultada para ser mãe de Deus”, dando origem a equívocos gravíssimos sobre o uso do verbo “consultar” na voz passiva. Fonte: Twitter.

Afinal, o que é “consultar”?

Tenho observado, não sem um certo grau de estupefação que, em certos casos, beira o horror, que praticamente todas as discussões públicas da atualidade no Brasil envolvem, direta ou indiretamente, uma incompreensão cabal do significado das palavras. As pessoas esbravejam e xingam umas às outras, mas é raro que alguém tenha a ideia elementar de “consultar” um dicionário para entender o que, afinal, significam as palavras-chaves que todos estão empregando em seus argumentos. Por conseguinte, fugiremos agora a essa regra: antes de dizer qualquer coisa sobre o cartaz que deu origem à polêmica, “consultaremos” o dicionário online Aulete para elucidar o que, afinal, significa o verbo “consultar”:

1. Pedir a (alguém, esp. especialista em determinado assunto) parecer, conselho, opinião etc. [td. : consultar uma astróloga.] [tdr. + sobre : Consultei o engenheiro sobre a obra.] [tr. + com : consultar -se com um médico.]

2. Dar consulta ou parecer (a). [td. : Às sextas-feiras consulta pacientes cobertos pelo plano de saúde.] [int. : O velho advogado parou de consultar.]

3. Buscar informação ou fazer pesquisa em; procurar esclarecer-se, informar-se ou conhecer alguma coisa por meio de. [td. : “Logo ia consultar um manual para esclarecer uma hipótese.” ( Pepetela , A geração da utopia) ]

4. Fig. Sondar, examinar antes de decidir; MEDITAR; REFLETIR [td. : consultar o coração/ a consciência.] [int. : Consultou -se antes de responder.]

[F.: Do lat. consultare.]

Observe que o verbo “consultar” é transitivo, isto é, uma ação que se dirige a outra pessoa ou coisa. O sujeito pode “consultar” o relógio para saber as horas, o dicionário para descobrir o significado de uma palavra, ou o médico em busca do tratamento para uma doença. Somente em sentido figurado a pessoa pode “consultar a si mesma”, mas é evidente que, mesmo nesse caso, há implícita a ideia de um sujeito que consulta e uma pessoa ou coisa a quem se dirige a consulta.

O significado da voz passiva

O próximo passo para entender a origem da polêmica é lembrar que a oração “Até Maria foi consultada” está na voz passiva. Segundo o cartaz, Maria não foi o “sujeito” da consulta, mas o seu “objeto”, a sua “receptora”, o “polo passivo” do ato de consultar. Deste modo, precisamos descobrir quem teria sido a outra pessoa autora da tal “consulta”.

Para isso, devemos recorrer ao trecho do texto bíblico que aborda a “Anunciação”, Lucas 1:26-38:

26 E, no sexto mês, foi o anjo Gabriel enviado por Deus a uma cidade da Galileia, chamada Nazaré,
27 A uma virgem desposada com um homem, cujo nome era José, da casa de Davi; e o nome da virgem era Maria.
28 E, entrando o anjo aonde ela estava, disse: Salve, agraciada; o Senhor é contigo; bendita és tu entre as mulheres.
29 E, vendo-o ela, turbou-se muito com aquelas palavras, e considerava que saudação seria esta.
30 Disse-lhe, então, o anjo: Maria, não temas, porque achaste graça diante de Deus.
31 E eis que em teu ventre conceberás e darás à luz um filho, e pôr-lhe-ás o nome de Jesus.
32 Este será grande, e será chamado filho do Altíssimo; e o Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu pai;
33 E reinará eternamente na casa de Jacó, e o seu reino não terá fim.
34 E disse Maria ao anjo: Como se fará isto, visto que não conheço homem algum?
35 E, respondendo o anjo, disse-lhe: Descerá sobre ti o Espírito Santo, e a virtude do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra; por isso também o Santo, que de ti há de nascer, será chamado Filho de Deus.
36 E eis que também Isabel, tua prima, concebeu um filho em sua velhice; e é este o sexto mês para aquela que era chamada estéril;
37 Porque para Deus nada é impossível.
38 Disse então Maria: Eis aqui a serva do Senhor; cumpra-se em mim segundo a tua palavra. E o anjo ausentou-se dela.

Na cena descrita pelo evangelista, as únicas pessoas presentes são Maria e o anjo Gabriel. Como o cartaz diz que “Maria foi consultada”, o sujeito da tal “consulta” teria de, obrigatoriamente, ser o anjo! Não se pode afirmar que, no texto acima, houve uma “consulta” com base em algo que Maria tenha dito mas, sim, nas palavras ou ações do anjo!

Porém, compare o texto acima com os significados possíveis do verbo “consultar”. O anjo “pediu parecer, conselho ou opinião” a Maria? Não, ele apenas “anunciou” a gravidez. Ele “ofereceu um conselho ou parecer” a Maria”? Também não. O anjo também não “fez pesquisa ou buscou informação” nem “sondou ou examinou antes de decidir”. Quando o anjo abordou Maria, a decisão já havia sido tomada. Ele apenas “informou” Maria de que ela daria à luz o Filho de Deus. A situação narrada no texto bíblico não configura uma “consulta”, mas um “anúncio” sendo, portanto, mui justamente referida como “Anunciação”!

Conclusão

Independentemente do lado em que o leitor se encontre no debate sobre a legalização do aborto, é forçoso admitir que o texto do cartaz do grupo “Católicas pelo Direito de Decidir” está simplesmente errado. Maria não foi “consultada”, mas “informada” pelo anjo de que ficaria grávida de Jesus, sendo exatamente esse o motivo pelo qual o episódio é referido como “Anunciação”. O fato de que o verbo “consultar” está na voz passiva implica logicamente que a suposta “consulta” seria decorrente dos atos e palavras do anjo e não das de Maria, resultando simplesmente errado o argumento de que o “sim” de Maria caracterizaria a “consulta”. Ou seja, em última análise, testemunhamos um debate estapafúrdio em torno de um equívoco em que ambas as partes tentavam refutar o erro do adversário recorrendo a um erro ainda maior.

Quem deseja contribuir produtivamente para um debate público deve esforçar-se para conhecer o significado das palavras em discussão e avaliar se o uso proposto pelos debatedores é aceitável ou se presta apenas à proliferação de mal-entendidos. Neste curso online de redação, você aprenderá técnicas para escolher a palavra mais adequada a cada situação, eliminando ambiguidades e garantindo sempre a melhor expressão para suas ideias – faça já sua matrícula!

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